renata lo prete
escreveu até março de 2001
Renata Lo Prete, jornalista, entrou na Folha em 1986, no caderno "Ilustrada". Foi editora-adjunta de "Mundo", editora de "Ciências" e, em 1998, assumiu o cargo de ombudsman, que ocupou por três anos. Foi ainda editoria da coluna Painel, publicada diariamente no caderno "Poder".
Buraco negro
Decorridas duas semanas desde a publicação do "Ranking da Ciência", há 50 nomes injustamente omitidos da lista dos pesquisadores brasileiros com maior influência mundial nas áreas de física, matemática, química e bioquímica.
Na página 1-12 da edição de hoje, uma reportagem traz as retificações e tenta explicar por que a iniciativa da Folha resultou em tantos erros.
Nada garante que essa correção seja a última. O jornal constatou tal número porque foi procurado por atingidos.
Como está, a conta já impressiona (50 ausências em uma relação de 494 cientistas). Mas pode crescer. Basta que outros pesquisadores não mencionados se apresentem e demonstrem preencher os requisitos para figurar na lista.
Para estabelecer a relevância de uma pesquisa, o levantamento utilizou como critério o número de citações feitas a ela em outros estudos, divulgados em publicações científicas consideradas de alto nível.
Em resumo, foram "eleitos" os pesquisadores cujos trabalhos conquistaram acima de certo número de citações.
O levantamento foi realizado por uma equipe de especialistas em avaliação científica. A Folha decidiu manter seus nomes em sigilo, sob o argumento de que se buscou evitar interferências. O jornal lembrou que o procedimento é semelhante ao adotado pelas revistas internacionais mais conceituadas.
Não obstante os cuidados e mais de um ano consumido no projeto, os problemas detectados após a publicação foram muitos e graves. Os principais:
a) omissão de nomes plenamente qualificados para constar da lista;
b) distorções nos rankings de instituições com mais pesquisadores "eleitos";
c) erro no número de citações atribuídas a cientistas. Além dessas três categorias gerais, várias pessoas me procuraram para apontar conflito específico em bioquímica.
Consideram que, sob esse chapéu, foram abrigados pesquisadores de áreas muito distintas, e que não ficou claro por que determinados nomes foram aceitos ali e outros não.
Exemplo. Nessa área, o líder do ranking é um farmacologista. Mas, a um outro que apresentou à ombudsman as credenciais necessárias para aparecer na lista, a Redação respondeu que o nome dele seria apreciado em um futuro levantamento, abrangendo a área de ciências biomédicas.
Ao mesmo tempo, o ranking traz, entre outros "E.T.s", um parasitologista (algo bem diverso da bioquímica). Da reportagem-erramos publicada hoje pode-se dizer uma coisa boa e outra ruim.
A boa é que o jornal agiu com transparência. Não procurou esconder os erros nem subestimar seu alcance. Levou o caso à Primeira Página, onde havia anunciado o ranking.
A ruim é que persiste a fragilidade da classificação estabelecida pela Folha, seja porque podem existir mais omissões, seja porque é impreciso comparar as citações dos cientistas listados há 15 dias com as dos que foram resgatados hoje (os números correspondem a períodos diferentes).
Para sanar o problema, só fazendo tudo de novo, aperfeiçoando os mecanismos de captação e checagem das informações. A discussão pode parecer distante para muitos leitores. É bom pensar, no entanto, no que ela pode representar para os envolvidos.
Para ficar em um único exemplo, o físico Mario Baibich, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ficou fora do ranking apesar de reunir mais do que dez vezes o número exigido de citações.
Refeitas as contas, descobriu-se que é dele nada menos do que o quarto lugar entre os pesquisadores da área. Detalhe: Baibich já havia sido esquecido na edição anterior, em 1995. Segundo me relatou, na ocasião o jornal lhe garantiu que isso não voltaria a ocorrer.
Ao apresentar o atual "Ranking da Ciência", a Folha disse que pretendia "fornecer subsídios para análises e estudos sobre o desempenho e a produtividade de pesquisadores e instituições". Por mais elogiável que tenha sido a iniciativa, o saldo de erros é grande demais para quem pretende ser árbitro da excelência.
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