Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
Fusão entre conteúdo e tecnologia deixa vácuo cinzento de perguntas
Lluis Gene/AFP | ||
Reed Hastings, CEO da Netflix, participa do Mobile World Congress, em Barcelona |
SÃO PAULO - Há tendências que orbitam por anos o mundo da tecnologia, apontadas como a "próxima onda", mas que na prática demoram a ter impacto na vida das pessoas.
Não é o caso da fusão entre conteúdo e tecnologia, que se consolida em velocidade por vezes não percebida. A semana em curso mostra como são cada vez mais raras movimentações confinadas a uma das pontas.
Mais importante feira de celulares do mundo, o Mobile World Congress teve como principal estrela a Netflix, produtora e distribuidora de filmes e séries que logo chegará a 100 milhões de clientes. O motivo da escolha? A empresa acelera sua expansão internacional distribuindo conteúdo nos pacotes das operadoras.
A união entre conteúdo e tecnologia também se dá a partir do sentido contrário. Sinal disso, bem aqui no Brasil, foi mostrado pela Folha. A filmagem de uma série que reconstitui a conquista da América por Colombo despejou 200 litros de sangue falso no meio da Amazônia. Quem banca a produção é a Movistar, operadora de celular da Telefónica.
Outro exemplo veio do Youtube, que na terça (28) agrupou as maiores emissoras dos EUA num pacote de assinatura de televisão.
Um dia depois, o Facebook anunciou um incentivo para que os usuários aumentem o número de vídeos que colocam na rede social: incluirá publicidade neles e direcionará parte do dinheiro para quem os produziu.
A maior parte dos debates legais e éticos caminha anos-luz atrás do curso da história. As regras de produção de conteúdo nacional são aplicáveis? A restrição ao controle de meios de comunicação por estrangeiros ainda faz sentido? Qual é exatamente a responsabilidade desses novos atores sobre o que veiculam, tanto em relação à veracidade quanto à censura? Mais: como assegurar pluralidade de vozes nesse ecossistema?
Só que mal saímos ainda das respostas no front fiscal, priorizado pelos governos por motivos óbvios.
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