Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
Solução para fake news começou com uma fake solution
Reprodução/Twitter | ||
Senador americano Richard Blumenthal mostra tuíte com informação falsa sobre eleição dos EUA |
SÃO PAULO - Se há uma entidade que não deveria se meter de jeito nenhum a arbitrar o que é informação que pode circular e o que não é, essa entidade é o Exército brasileiro.
As décadas de ditadura e censura são suficientes para desejar os militares longe de atividades assim, sobretudo se relacionadas a uma eleição.
Mas é justamente essa a costura que está sendo feita em Brasília para enfrentar o problema das notícias falsas. A sugestão do ministro Raul Jungmann é que o Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército trabalhe para identificar tais conteúdos. A ideia soa equivocada não só pelo antecedente histórico, mas também pela eficácia.
Nem a compreensão do problema parece boa. As fakes news têm tudo para ser a maior dor de cabeça das eleições de 2018, assim como ocorreu nos EUA. Acreditar que são incapazes de decidir uma disputa majoritária, como diz o ministro do STF Alexandre de Moraes, é subestimás-las.
A importância delas na vitória de Donald Trump ainda mal foi arranhada. As gigantes da internet começaram só agora, e sob muita pressão, a divulgar imagens dos anúncios falsos e dados de seu alcance.
Um deles, mostrado nesta quarta (1º) no Senado americano, tem uma foto de um ator "ensinando" os eleitores de Hillary Clinton a votar sem sair de casa, usando uma hashtag do Twitter, algo impossível.
Nos EUA, a discussão agora vai no sentido de aproximar as regras para publicidade nas plataformas de internet às da mídia tradicional. O projeto "Lei dos Anúncios Honestos" quer que as gigantes digitais mantenham uma base de dados pública com todos os investimentos acima de US$ 500, incluindo aí a audiência obtida e o preço pago —e mesmo esse caminho talvez seja tímido demais.
Por aqui, o arcabouço legal manco deve jogar seguidas bombas no colo dos tribunais eleitorais. A discussão desse problema complexo começou com uma solução simples e errada.
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