Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

2018 começou mal em cibersegurança

Crédito: Thomas Samson/AFP Computer processors by US technology company Intel are pictured on January 5, 2018 in Paris. As tech giants race against the clock to fix major security flaws in microprocessors, many users are wondering what lurks behind unsettling names like "Spectre" or "Meltdown" and what can be done about this latest IT scare. / AFP PHOTO / Thomas SAMSON
Processadores da Intel, que apresentou falhas de segurança

2018 começou mal do ponto de vista da segurança da informação. Repercutiu nos últimos dias a constatação de que há duas falhas de desenho nos principais processadores utilizados por computadores, celulares e outros dispositivos.

Essa falha é capaz de expor informações sensíveis, incluindo senhas, certificados e outros dados confidenciais.

As falhas foram batizadas de Meltdown e Spectre. A primeira, mais fácil de ser explorada por hackers, afeta praticamente todos os processadores da Intel. Por exemplo, torna vulneráveis serviços de armazenamento de dados na nuvem, permitindo a um hacker "roubar" dados dos clientes desses serviços.

A boa notícia é que já estão disponíveis atualizações de software capazes de mitigar os efeitos da falha. Só que com um grande problema: essa atualização pode levar a perdas de até 30% na velocidade do processador. É como se voltássemos no tempo sete anos em capacidade de processamento, no melhor estilo do livro "Ubik", do escritor Philip K. Dick.

Já o Spectre está presente em basicamente todo e qualquer tipo de microprocessador, incluindo marcas como AMD, ARM e também Intel. A má notícia é que essa falha não pode ser corrigida. Ela traz consigo a necessidade de reformulação completa da arquitetura dos chips utilizados hoje.

Ou seja, o problema estará conosco por todo o ciclo de renovação do hardware que utilizamos, o que pode levar uma década ou mais.

Essas falhas surgiram em razão de um dilema que afeta o desenho de qualquer hardware. O que deve ser privilegiado, segurança ou velocidade? Ao longo dos últimos anos, as empresas que fabricam processadores decidiram priorizar velocidade, deixando de abordar questões essenciais sobre segurança.

Estamos agora começando a pagar o preço dessas escolhas.

Vale mencionar que as falhas foram descobertas por uma equipe que pode ser chamada de "multissetorial", isto é, composta por vários setores da sociedade, em especial o setor privado, academia e terceiro setor.

Entre os que primeiro reportaram as falhas estão Jann Horn, programador da área de segurança do Google, pesquisadores de universidades como a de Graz, na Áustria, Pensilvânia, Maryland e Adelaide, entre outros. Ou ainda membros do interessante grupo híbrido australiano Data61.

Chama a atenção nessa lista a ausência de atores estatais típicos. Segurança da informação é obrigação do Estado. No entanto, o Estado sozinho pode fazer pouco para descobrir, prevenir ou remediar falhas com essas.

Para que qualquer iniciativa de cibersegurança tenha efetividade, ela precisa ser multissetorial, promovendo a cooperação com vários setores da sociedade.

Quanto mais isolado e autocrático o Estado se mantiver nessa área, mais impotente será contra ameaças digitais. É o caso do Brasil.

Estamos privilegiando modelos institucionais de concentração e isolamento em políticas digitais, em detrimento do multissetorialismo. No futuro, também vamos pagar o preço dessas escolhas.

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