É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Beijos gelados
RIO DE JANEIRO - Quando alguém se pergunta sobre quem manda atualmente no Brasil, as figurinhas carimbadas são as que você sabe. A presidente Dilma, óbvio, manda muito. Quase tanto quanto o ex-presidente Lula, que a cada dia lembra mais a imagem criada por Millôr Fernandes, a do rabo escondido com o gato de fora. O ministro do STF, Joaquim Barbosa, manda muito na sua área. E há banqueiros, empresários e políticos que mandam muito mais do que aparentam.
Mas quem põe e dispõe de verdade no Brasil de hoje são a Fifa e o COI (Comitê Olímpico Internacional). Em nome da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, essas entidades --usando como peões organismos locais em todos os níveis de governo-- demolem pistas, piscinas, estádios e quarteirões inteiros segundo seus interesses, interferem na cultura das cidades e até mudam as leis do país.
Para abrir um estacionamento no entorno do Maracanã, tentaram derrubar um prédio tombado (aquele que os índios ocuparam e reduziram a cabeça de porco) e uma escola-modelo. Essas tentativas, parece, foram barradas, mas dois históricos equipamentos esportivos, também do complexo do Maracanã e sob a guarda do Ministério Público e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), podem não ter a mesma sorte: o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio Delamare.
A Fifa impôs a venda de cerveja nos estádios brasileiros (para não perder patrocinadores) e quer impedir que o Estádio Nacional de Brasília continue a se chamar Mané Garrincha --quanto vale dar nome a um estádio? E agora se descobre que as obras no Maracanã para a Copa, executadas pelo figurino da Fifa, não se prestam aos padrões do COI e terão de ser refeitas para a Olimpíada.
Sediar esses eventos é uma conquista, mas os beijos que vêm com ela são gelados.
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