É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
As mãos do herói
RIO DE JANEIRO - O ano, 1954 ou 55. O Vasco era uma potência brasileira. Nos dez anos anteriores, fora cinco vezes campeão carioca, e seu time, o "Expresso da vitória", a base da Seleção. Mas seu poder extrapolava o futebol. Emanava do estádio de São Januário, onde Getúlio discursara para os "trabalhadores do Brasil", concentrava-se nos portugueses da rua do Acre, que dominavam as importações de secos e molhados no país, e espalhava-se pelos corredores do Catete, sede da República.
Como todo vascaíno, o garoto Carlos Alberto, aos seis anos, sonhava com as façanhas de Ademir, Danilo, Barbosa, Augusto, Ipojucan e outros craques do clube. Por contatos do pai, também português, sua casa, na Tijuca, era quase um consulado do Vasco. Os jogadores a frequentavam com suas esposas e faziam festinhas no menino Carlos e em sua irmã Leila. Era a glória.
Para Carlos, no entanto, a glória maior seria entrar em campo como mascote do time, de mãos dadas com o herói máximo, o jovem zagueiro Bellini. Mas nunca o convidaram. Pior: quem fazia isso era seu primo Crezinho. Por muito menos, milhares passaram a vida no analista.
Séculos depois, Carlos Alberto Afonso, cuja loja Toca do Vinicius, em Ipanema, produz uma "calçada da fama", passou esse item a limpo. Às mãos de Pixinguinha, Chacrinha, Tônia Carrero, Grande Otelo, Marlene, Zico e outros deuses, gravadas em cimento, ele, em 2009, juntou as de Bellini. Como seu ídolo já estivesse doente para viajar, Carlos foi a São Paulo levando o caixilho de madeira, o cimento e a colher de pedreiro. E, no próprio apartamento de Bellini e sua esposa Giselda, realizou a operação. Imprimiu na massa as mãos que primeiro levantaram a Copa.
Mas, para o seu coração, elas significavam muito mais. Eram as mãos que Carlos Alberto, um dia, queria que o conduzissem para o gramado, em nome do Vasco.
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