É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Tem a ver com a Rússia
RIO DE JANEIRO - Certa vez, alguém me perguntou se a internet iria matar o livro. Respondi que o mais provável era a internet morrer primeiro. É fatal que, um dia, ela será substituída por alguma "ferramenta" mais rápida, abrangente e minuciosa, com outro nome, formato e meios. Mas seu principal uso não se alterará: fazer com que as pessoas aplaquem sua solidão comunicando-se desesperadamente entre si.
Enquanto isto, o livro, coitadinho, prosseguirá na sua senda –a de ser uma sequência de cadernos de páginas impressas e com letras formando palavras. (Não, não me esqueci dos kindles e assemelhados. Aposto que, em pouco tempo, estarão ao lado dos faxes, CD-Roms e vídeocassetes nas caçambas de entulho.)
Quanto aos livros, podem mudar as técnicas de impressão, estilo das capas, qualidade do papel, marca da tinta etc. Nada disso importa. Eles continuarão a ser lidos como em 1500: com o olho correndo da esquerda para a direita e de cima para baixo, cobrindo cada sílaba, frase e parágrafo. E os leitores mais conservadores não abrirão mão de lamber o dedo para virar a página.
Outra cláusula pétrea relativa ao livro é a de que sua leitura exige um relativo recolhimento –é quase impossível lê-lo e fazer amor ao mesmo tempo, exceto, talvez, se os dois estiverem lendo o mesmo livro. E não se avexe: se o livro estiver chato, pule páginas ou ponha-o de lado. Mas, se estiver gostando, para que ter pressa de terminá-lo?
Indiferentes a isto, os fabricantes de badalhocas vêm aí com uma novidade –mais uma– para que você leia em 30 segundos o que hoje lhe toma meia hora: uma telinha mínima, com as palavras se sucedendo rapidamente. Lembra-se da "leitura dinâmica"? Foi uma mania nos anos 60. O próprio Woody Allen aprendeu a técnica e comentou empolgado: "Li 'Guerra e Paz' em 20 minutos! Tem a ver com a Rússia".
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