É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
Ingênuos até certo ponto
RIO DE JANEIRO - O "New York Times" descobriu a explicação para o fato de que o futebol dos EUA nunca será tão poderoso internacionalmente. Não porque seus jogadores não tenham qualidades técnicas. Mas porque não conseguem ser "sujos como os de outros países", diz o jornal. São ingênuos, honestos demais. Não admitem, por exemplo, cair para simular faltas, "como os brasileiros".
O rotativo foi generoso ao avaliar o "fairplay" de seus campeões –ou terá sido desmemória? Por aqui, ainda há quem se lembre do ciclista Lance Armstrong, cujo heptacampeonato no Tour de France e vitórias em dezenas de provas de bicicleta, a partir de 1998, se deveram ao doping– acusação mais do que provada e que lhe custou a devolução de seus títulos, prêmios e medalhas, perda dos patrocinadores e banimento perpétuo do esporte.
O mesmo se deu com Marion Jones, que ganhou cinco provas de atletismo nos Jogos de Sydney em 2000 e, anos depois, admitiu ter disputado sob o efeito de esteroides e foi igualmente despojada de tudo. E com seu namorado Tim Montgomery, o "homem mais rápido do mundo" em 2002 –à custa de bombas– e também apanhado. Histórias como essas se sucedem. Parece que, diante das fortunas em bolsas, publicidade e apostas, os atletas americanos ignoram a severa ideia que o "New York Times" faz deles.
O boxe, o turfe e até o amado beisebol também estão cheios de casos de fraude, suborno e manipulação de resultados. Isso não é privilégio dos EUA, claro. Acontece em toda parte –inclusive lá. E por que a sagrada NBA ficou tão rigorosa contra quem finge ter sido atingido? Significa que, mesmo entre seus quase deuses, nem tudo é "fairplay"?
Minha carreira no pôquer limitou-se a uma partida e havia um americano na mesa. Estranho –só ele sabia onde estavam os ases.
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