É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
E outros bichos
RIO DE JANEIRO - Às vezes me convidam a escrever a história da Semana de Arte Moderna de 1922. Apesar de honrado, recuso — por não me julgar à altura. Quando se escreve uma biografia ou um livro de reconstituição histórica, o cenário é tão importante numa primeira instância quanto o objeto da investigação. No caso do Modernismo, eu teria de aprender tudo sobre São Paulo dos anos 1910 e 1920 — o que talvez levasse anos –, para só então mergulhar nas peripécias dos personagens. Mas que seria fascinante, seria.
Se fosse me atirar ao assunto, a primeira providência seria mapear as ruas, Redações, galerias de arte, confeitarias e até garçonnières de São Paulo por onde Oswald e Mario de Andrade, Menotti del Picchia, Monteiro Lobato, Anita Malfatti, Guilherme de Almeida, Tarsila, Pagu et al. se moviam. Quero crer que tudo se passasse num perímetro limitado, formado talvez por Barra Funda, Santa Cecília, Higienópolis, Anhangabaú, Santa Ifigênia e Campos Elíseos.
Os próprios palacetes de seus mentores Paulo Prado, dona Olivia Penteado e demais ricos deviam ficar por perto. E seria divertido estabelecer, rua a rua, o roteiro das procissões que Mario de Andrade, já autor do chocante "Paulicéia Desvairada", seguia com ar pio e de vela na mão.
Difícil seria entender por que, num movimento que se propunha "acertar o relógio império" da literatura nacional, sintonizando-o com os modernos Fords, klaxons, máquinas Kodak, câmeras Pathé-Baby e chaminés de fábrica, seus membros não se livravam de certa cultura campestre, folclórica e zoológica, presente nos títulos de seus manifestos, livros e revistas:
"Pau Brasil", "Terra Roxa", "Tupi or not Tupi", "Antropofagia", "Martim Cererê", "Cobra Norato", "Vamos Caçar Papagaios", "Clã do Jabuti", "Grupo da Anta", "Macunaíma", "Deixa Estar, Jacaré" e outros bichos.
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