É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.
A conta chegará em seguida
John Moore/Getty Images/AFP | ||
Dependente químico injeta heroína |
RIO DE JANEIRO - Reportagem de Luiz Fernando Toledo no "Estado de S. Paulo", há duas semanas, revela que a heroína, opioide extraído da papoula, chegou à Cracolândia. Segundo a polícia, está sendo vendida na Luz, na região central de São Paulo, por um grupo de nigerianos e tanzanianos. Produzida na Ásia, ela vem em pó, a ser fumada em cachimbos, como o crack — ou, seu canal preferencial, injetada.
Estava demorando. De 20 em 20 anos, o mercado brasileiro recebe, a princípio timidamente, um novo produto: a maconha nos anos 50, a cocaína nos anos 70, o crack nos anos 90 e, agora, a heroína. É o tempo necessário para surgir uma nova turma, disposta a encarar algo mais potente que o usado pela geração anterior. A entrada em cena de um produto não corta o fornecimento dos produtos anteriores, donde podem legalizar o que quiserem — sempre haverá algo para o traficante vender.
A heroína não é recreativa. Não é uma droga para duros ou diletantes. Uma vez fisgado — o que acontece quase quando se é apresentado a ela —, o usuário pode contar com uma relação para sempre, e muito cara de sustentar. As primeiras doses são nirvânicas, mas todas as seguintes serão apenas para impedir que ele passe mal — muito mal. A quebra dessa dependência é a mais difícil e dolorosa que existe.
Os jazzófilos sabem da devastação que a heroína produziu entre seus músicos nos anos 50 — saxofonistas Charlie Parker, Art Pepper e Stan Getz, trompetistas Red Rodney, Miles Davis e Chet Baker, pianistas Thelonious Monk e Ray Charles, baterista Art Blakey, cantoras Billie Holiday, Anita O'Day e Annie Ross, muitos mais. Todos, grandes músicos – não por causa da heroína, mas apesar dela.
É uma droga de gente educada e de classe média. Não faltarão curiosos a fim de experimentá-la. A conta chegará em seguida.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade