É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
A era do povo
A história do Brasil começa agora. Até hoje tivemos apenas a história das elites do Brasil, na qual as massas eram figurantes.
A imensa maioria dos brasileiros nunca teve voz, canal, site. Mesmo sua música autêntica foi transformada para agradar ao padrão mediano de consumo. No inevitável capitalismo é assim, só tem voz quem consome. E a massa brasileira passou séculos consumindo nada além do mínimo para a subsistência.
Mas 16 anos de estabilidade econômica e baixa inflação e a sucessão de quatro governos positivos liderados pelos melhores quadros de seus grupos políticos (é Lula + FHC, não Lula - FHC) abriram o caminho da prosperidade para dezenas de milhões de brasileiros. Que agora consomem, logo existem.
Consumindo, ganham identidade e força e dão identidade e força ao país. Com população de quase 200 milhões e rica extensão continental, criar um pujante mercado interno sempre foi o caminho óbvio para realizar o destino de potência. Mas, como até a revista "Economist" notou, o Brasil tentou de tudo antes de tentar o óbvio.
A emergência dessa classe C é a grande novidade do país, nossa mudança mais transformadora. Perto dela, o grau de investimento é "peanuts".
Lula não é o principal vetor dessa mudança, imposta pelo vigor econômico nacional, mas seu maior símbolo. Sua eleição e reeleição deslocaram o miserável brasileiro da cozinha para a sala, e a enorme irritação que sua autenticidade causa mede a grandeza desse movimento .
Mas não há o que temer. As massas enriquecem junto com as elites, não em detrimento delas.
E esse processo de prosperidade coletiva é a maior garantia de que os próximos dirigentes do país seguirão a cartilha da estabilidade macroeconômica baseada em inflação baixa/BC independente, câmbio flutuante e relativo equilíbrio fiscal.
E é só o começo.
Para onde vamos daqui em diante dependerá cada vez mais do comportamento e da vontade desses novos milhões de cidadãos-consumidores e cada vez menos das elites que nos guiaram nos primeiros cinco séculos.
Dezenas de milhões de pessoas estão sendo agregadas à produção de bens e de inteligência, estão ganhando voz. Com capital externo, universidades criaram modelos de negócios que rodam com mensalidades de R$ 300 por mês e salas cheias, inserindo milhões no ensino superior. É melhor faculdade precária que nenhuma faculdade. E a vibrante internet brasileira, com mais de 60 milhões de brasileiros conectados, promete ser o canal fundamental para essa nova comunicação e interação nacional.
Chegamos até aqui com menos de 15% da população comandando o Brasil. A integração dos outros 85% transformará o país, tanto mais quanto melhorarmos o precário ambiente de negócios.
A história do Brasil como resultante do pensamento e da ação da maioria dos brasileiros começa agora. Antes tarde do que nunca.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade