É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
Chega de recordes
A arrecadação do governo federal atingiu em maio a montanha de R$ 61 bilhões, um recorde para o mês. Desde setembro do ano passado, a arrecadação federal bate recorde todo mês: já são nove recordes seguidos.
A robusta recuperação econômica enche os cofres dos governos federal, estadual e municipal. Em pleno ano eleitoral, governar é uma festa, financiada por essa pesada carga tributária que toma 35% de tudo o que produzimos, um monstro parido num outro país, instável economicamente, com dificuldades de financiamento. Um país que finalmente deixamos para trás, mas do qual ainda carregamos esse peso.
A expansão econômica atual, tão virtuosa, é nossa melhor chance de reduzi-lo. A produção, o consumo e a renda crescem tanto que é possível taxá-los menos e mesmo assim manter a arrecadação. Sem falar nos ganhos com uma fiscalização cada vez mais rigorosa.
As desonerações pontuais feitas na crise, principalmente na indústria, mostraram o que os estímulos fiscais podem fazer pela atividade econômica .
Agora que a recuperação é abrangente, uma redução linear da carga tributária, como, por exemplo, na folha salarial ou nas operações financeiras, daria ganho seminal de produtividade e competitividade às nossas empresas.
Ao invés disso, vemos o aumento de despesas públicas de qualidade duvidosa, para dizer o mínimo, capitaneado por um Congresso Nacional apressado e em modo eleitoral.
As crises são terríveis, mas, quanto piores, mais ricas em lições. Aprendemos nessa última como é importante termos moeda forte, reservas internacionais volumosas, sistema financeiro conservador e relativo equilíbrio fiscal. Ou seja, a prudência remunera.
Essa ânsia em arranjar destino imediato para o excedente de arrecadação lembra o que de pior tivemos em nossa recente história econômica: o casuísmo irresponsável, de visão curta. E a imprudência pune.
Basta ver a Europa, que viveu anos e anos gastando um dinheiro que não tinha mais para sustentar privilégios de um sistema de bem-estar social insustentável. Agora países como Grécia, Espanha, Portugal, Reino Unido, Alemanha e França reveem seus modelos e fazem cortes profundos em seus gastos públicos, cientes de que equilíbrio fiscal tem mais valor que gasto com pessoal.
Como os europeus agora, o Brasil aprendeu essa lição lá atrás. Não podemos desaprender.
O melhor uso para o recorde de arrecadação é reduzir a carga tributária, não aumentar gastos correntes. Não vamos transformar uma boa notícia em má.
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