É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
A hora do ajuste
Com um consumo interno nunca visto na história, de carros a imóveis, de aço a energia, de iogurte a cerveja, a economia brasileira deve crescer mais de 7% neste ano, reflexo do pleno emprego, da alta na renda, da confiança no futuro, do aumento dos investimentos, do crescimento do crédito, da gastança dos governantes .
Abundam motivos para a inflação subir no país. Seus maiores moderadores são o dólar fraco (ou o real forte), que barateia produtos e insumos importados, e os juros altos, uma das razões para o real forte, mas de forma alguma a única.
Isso tudo são fatos.
Agora vem a retórica: o maior problema da economia brasileira é o juro alto, que encarece o investimento, inibe o crescimento, atrai o capital estrangeiro e derruba o dólar por aqui.
Como se o juro alto fosse um problema em si, e não uma resposta da política monetária ao cenário econômico para manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo governo.
Essa retórica vazia, suportada muito mais por convicções ideológicas do que por percepções da realidade, aparece na boca de governistas e de supostas fontes da equipe de transição do próximo governo. Como se fosse possível baixar os juros na caneta, apenas manietando a direção do Banco Central.
A pergunta que vem é óbvia: se os juros básicos no Brasil estão tão altos e fora da realidade, como estamos crescendo a 7% neste ano?
Na falta da caneta superpoderosa, e com o crescimento vigoroso alimentando a inflação, a forma mais rápida de reduzir de forma responsável os juros seria justamente fazer o contrário do que pregam os autoproclamados "desenvolvimentistas": moderar os gastos do governo.
Se a crise econômica de 2008-2009 justificou o aumento do gasto público no mundo todo, a hora no Brasil é a de segurar esses gastos, já que crescemos tanto.
Até os países de economias mais maduras, que crescem muito menos e seguem ameaçados pela crise, cortam, radicalmente, os gastos públicos para equilibrar seus orçamentos.
Por aqui, nossos governantes, que já seqüestram por meio de tributos 35% de tudo o que produzimos, querem mais. Ressuscitaram até a CPMF, o imposto sobre movimentações financeiras, que morde como piranha a nossa conta bancária.
Não serão os ministros do próximo governo que definirão o que será o Brasil. O país é maior que o governo. E o país vai muito bem.
Mas o governo pesa demais, arrecada demais, e por isso mesmo temos uma chance histórica de reduzir este fardo agora que os cofres públicos estão cheios.
Há gente importante perto da presidente eleita que defende um governo forte porque eficiente, não forte porque grande.
A conjuntura global e brasileira, política e econômica, nunca foi tão favorável a um ajuste para o bem do peso do Estado no Brasil: ele deve custar menos e fazer mais, porque é verdade que há muito a fazer.
O ganho de eficiência e de inteligência que se viu nas empresas privadas, cada vez mais expostas ao mundo, precisa chegar aos nossos governos.
A complacência na fartura é nossa maior inimiga.
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