É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
Brasil é a melhor ponte Norte-Sul
A história moderna dos homens é basicamente a história das ideias. Elas são fundamentais. O resto é consequência.
E o nascimento de uma grande ideia pode ser tão prosaico.
2001, 11 de Setembro.
Jim O'Neill, o economista inglês do banco americano Goldman Sachs, havia assumido o comando do departamento de Economia da instituição sob pressão para mostrar suas ideias.
No dia em que a Al Qaeda explodiu boeings contra as torres do World Trade Center, O'Neill fazia, de Londres, uma videoconferência com colegas do banco em Nova York.
De repente, seus colegas sumiram da tela: o Goldman Sachs estava evacuando sua sede, na região de Wall Street. Em Londres, O'Neill ficou profundamente transtornado com o ataque ao coração do Ocidente capitalista.
Em entrevista imperdível a Gillian Tett no "Financial Times" (que você deve ler!, em FT.com), O'Neill conta que os atentados reforçaram sua visão de que a supremacia americana-ocidental tinha data para acabar, e seria mais cedo do que tarde. Um movimento global que, entre outras coisas, geraria enormes possibilidades de lucro para um banco de investimento como o Goldman Sachs .
Em 30 de novembro de 2001, O'Neill lançou o famoso paper 66 sobre a economia global: "Building Better Global Economic Brics", no qual lançava o termo Bric (tijolo em inglês e acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China).
Segundo o paper de O'Neill, e do Goldman Sachs, os Brics dominariam a economia global na metade deste século, destronando o Ocidente e o mundo como o conhecemos.
A economia sempre vê antes.
O tijolo de O'Neill estruturou a difusa apreciação dos emergentes nos mercados e criou uma dinâmica de interesse e investimentos nos Brics pela qual, como brasileiros, devemos agradecer a ele e ao Goldman Sachs.
É verdade que o Bric antes de tudo nasceu para empacotar investimentos financeiros, e é um sucesso muito lucrativo para o Goldman Sachs. Mas a ideia, tão forte, seduziu também governos e diplomatas de Brasil, Rússia, China e Índia, que relevaram o DNA de Wall Street e criaram um grupo geopolítico de mesmo nome com encontros de cúpula frequentes.
A próxima cúpula será na China, em abril, o que pode ser o primeiro grande palanque (oportunidade) global para a presidente Dilma Rousseff.
O Brasil não é o maior dos Brics, mas, segundo O'Neill mesmo diz, pode ser o melhor. Não temos os problemas e desafios políticos, sociais, econômicos e fronteiriços de China, Rússia e Índia.
Nosso modelo econômico e político nos aproxima muito mais dos países ocidentais do que de nossos colegas bric.
Essa é justamente a nossa força. Trafegamos com desenvoltura e legitimidade pelo mundo ocidental, o mundo emergido e o mundo emergente. Abrigamos todos eles em nós.
Essa posição brasileira é única e valiosa. A diplomacia lulista jogou metade desse valor fora ao insistir até o fim apenas num terceiro-mundismo redutor, retrógrado e improdutivo.
O Brasil emergiu como democracia capitalista ocidental. Imperfeita, mas somos isso. A afirmação desses valores na esfera internacional é a melhor forma de refrescar nossa imagem, chacoalhar nossa diplomacia, aumentar nossa liderança, diferenciá-la e legitimá-la.
O Brasil deve ser a melhor ponte entre o Norte e o Sul nessa nova nova ordem mundial. É uma posição de valor inestimável, cujos alicerces já estão erguidos.
Somos uma potência amigável e tolerante. Nossa liderança fará bem ao mundo. Mas precisamos exercê-la por inteiro.
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