É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
Procuram-se delatores (paga-se bem)
Em plena maior crise econômica global em décadas, o capitalismo, especialmente o americano, reforça sua tendência à depuração e à inovação: esta crise inclusive faz parte disso .
É de uma coerência chocante a recompensa de US$ 104 milhões dada nesta semana pelo Fisco americano ao delator Bradley C. Birkenfeld, 47, ex-executivo do banco suíço UBS, mesmo depois de ele ter ficado preso mais de dois anos por auxiliar na sonegação de impostos.
A delação de Birkenfeld vale até mais do que isso. Ela desencadeou uma série de mudanças históricas nos EUA e na Suíça. E enriqueceu o Tesouro americano.
O banco suíço pagou US$ 780 milhões aos EUA para evitar processo criminal e entregou informações de 4.500 clientes ao I.R.S. (a temida e implacável Receita Federal americana).
Tim Shaffer/Reuters |
Bradley Birkenfeld receberá US$ 104 milhões de recompensa |
O temor do Fisco levou milhares de americanos milionários a revelaram suas contas na Suíça e a pagarem multas em troca de anistia, recuperando cerca de US$ 5 bilhões aos cofres públicos.
Enquanto isso, com muita pressão de Washington, a Suíça pela primeira vez abriu informações sobre contas bancárias depois de um intenso debate nacional.
Nos EUA, debateu-se se Birkenfeld deveria ser recompensado já que não revelou crimes que cometeu e foi preso. Como seu caso era o de maior destaque dos delatores, o Fisco manteve a indenização milionária, a maior de seu programa de recompensa por delações, que chega a até 30% da arrecadação conseguida.
No caso de Birkenfeld, que gerou quase US$ 6 bilhões ao Fisco e mudança histórica na postura suíça, a recompensa não chegou a 2%. Mas ele foi muito bem pago. Segundo o "New York Times", os US$ 104 milhões dados ao delator corresponderam a mais de US$ 4.600 por cada hora que ele passou na prisão.
O Fisco justificou a recompensa astronômica afirmando que ela dá enorme estímulo para que outras pessoas delatem sonegadores. Faz muito sentido. Imagine se esse programa fosse adotado no país em que o caixa 2 virou álibi?
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