É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
Crise venezuelana vai piorar
Como todo autoproclamado messias, Hugo Chávez não poderia nos deixar sem espetacularizar a sua morte. Nesse teatro de dois palcos, Caracas e Havana, o chavismo pós-Chávez esticará a mística do caudilho o quanto puder para entreter os venezuelanos e consolidar o seu poder antes de enfrentar a Constituição e a oposição.
O pequeno Paraguai por muito menos foi suspenso do Mercosul, punido pelo impeachment relâmpago (mas constitucional) do presidente Lugo.
Como só o Paraguai não havia ainda aprovado a entrada plena da Venezuela no Mercosul, a suspensão serviu para tornar a adesão venezuelana fato consumado, um ato cínico que enlameou não só o bloco como também a diplomacia brasileira.
Já na Venezuela (e em Cuba), Chávez não dá sinal de vida há quase mês, os boletins médicos não esclarecem nada, mas mesmo assim a Justiça "revolucionária" venezuelana decretou que a posse para o novo mandato seria mera formalidade, apesar de exigida pela Constituição.
Como o Mercosul tornou-se um bloco de esquerda, os governos de Brasil, Argentina e Uruguai sequer questionam o casuísmo autoritário venezuelano.
Se o martírio chavista se prolongar muito, até que seu sucessor se consolide, a crise crescerá. Se depois de eventual morte de Chávez, a orfandade chavista, composta basicamente de castristas e castrenses, castrarem de vez a democracia, barrando a convocação de novas eleições, como manda a Constituição, o Brasil ficará em situação mais delicada.
O chavismo atávico dos governos petistas pode comprometer ainda mais o valioso compromisso brasileiro com a democracia regional.
Chávez ascendeu ao poder em 1999, 4 anos antes de Lula, respondendo aos mesmos anseios das massas latino-americanas por vida melhor, mas com o viés truculento do revolucionário militar, não o viés conciliador do líder sindical.
Para seguir ganhando projeção e investimentos globais, o Brasil precisa voltar a se diferenciar dos sócios do Mercosul, cada vez menos democráticos e capitalistas. A hora da verdade da Venezuela pode ser a hora da verdade da diplomacia brasileira.
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