É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
A revolução está de sunga
A cena não poderia ser mais glauberiana. Num hotel chamado Windsor, diante do ensolarado mar da Barra, a Miami brasileira, um governo de esquerda privatizava ao menos parte da exploração do petróleo brasileiro ao mesmo tempo em que dizia que aquilo não era uma privatização. E eis que no meio das barricadas e das bandeiras rubro-negras, entre mascarados e sindicalistas, surge o revolucionário de sunga a gritar contra o capitalismo internacional.
A revolução está nua nessa privatização petista, um partido tão grande que hoje representa das autoridades engravatadas celebrando a venda de patrimônio público a multinacionais aos sindicalistas do lado de fora denunciando o ato. O revolucionário de sunga no caso é só um símbolo da esculhambação, ou, em melhor português, da falta de rigor nacional.
A grande revolução da esquerda brasileira foi abraçar o capitalismo, promovê-lo e reivindicar seus frutos. Era (é) o único caminho para o poder. As pesquisas do Datafolha mostram um consistente traço conservador na maioria dos brasileiros. Mas a direita partidária do país morreu há décadas, sufocada pela herança maldita de sua própria "revolução" e pela progressiva eficiência da máquina petista.
Esse conservadorismo nacional contém e conduz o PT, moderando seu ardor ideológico que o exercício do poder também desfigura. Dilma, à esquerda de Lula em seu centralismo, sua estadolatria e seu viés antiempresas, até tentou ressuscitar antigas ilusões esquerdistas, mas trombou com a realidade.
Sobrou o poder, que é muito mais que a ideologia. E um plano de longo prazo para mantê-lo.
Lula colocou Dilma à frente do pré-sal muito antes de lançá-la candidata. Dilma, aliás, era a presidente do Conselho da Petrobras nos famosos anos Gabrielli. Ela se tornou personagem fundamental da história da exploração do petróleo brasileiro e sempre poderá explorar seus méritos eleitorais.
O discurso da presidenta em cadeia nacional foi muito coerente com esse roteiro estabelecido na década passada. Como um Silvio Santos na Presidência, ela saiu distribuindo cifras ufanistas para além da compreensão e direto para o imaginário sonhático nacional, somando bilhões a bilhões até alcançar, nas palavras dela, "o fabuloso montante de mais de 1 trilhão de reais, repito, 1 trilhão de reais".
Existem muitos significados no primeiro e megaleilão do pré-sal. Os econômicos ficarão mais claros com o passar dos anos, mas seu valor político-eleitoral já é incontestável e passa dos US$ 15 bilhões obtidos na venda de Libra.
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