É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
De mulher para mulher, Marina?
Marina Silva, como Lula e FHC, tem uma biografia extraordinária. Ela não é gerente ou herdeira política. Construiu trajetória heroica do coração da Amazônia ao coração do Brasil que pode ser narrada como um conto avatariano.
Frágil e forte, Marina joga uma política sofisticada comparada ao pugilato PT-PSDB, ficando de fora e no centro ao mesmo tempo.
A cena política estava pronta para o "outsider" (ou a terceira via) que quebrasse a outrora produtiva polaridade PT-PSDB e rearranjasse o jogo. E quando Marina convoca e nomeia bons quadros dos dois partidos para colaborarem num eventual governo seu, consegue ocupar o centro também. E todas as eleições brasileiras são vencidas no centro.
No paredão do Jornal Nacional, Marina segurou o rojão com sua exótica figura e o figurino preto e branco de motivos amazônicos, como no debate da Band. Melhor que o modelo Angela Merkel azul que Dilma vestiu quando recebeu Bonner e Poeta no Palácio.
Aliás, Dilma é a primeira presidente mulher do país, mas pouco explorou essa condição. Até a famosa cena da presidente cozinhando macarrão no programa eleitoral (num modelinho Angela Merkel verde). Isso apesar de o fato de Dilma ser mulher ter aparecido em pesquisas no início de seu governo como um de seus trunfos na apreciação popular.
Mas Dilma não é política. Incidentalmente, por vontade de seu criador, ela governa o Brasil. Com sua vocação tecnocrata e centralizadora, achou que poderia comandar do gabinete e na caneta. Focou na economia, mudou um modelo que dava resultado e errou a mão. A economia parou bem na hora da eleição, reforçando o mal estar e o desejo geral de mudança despertados nas manifestações de 2013. Dilma agora tenta defender a mudança e a continuidade ao mesmo tempo. Difícil.
Atrás das duas mulheres, Aécio perdeu para Marina a posição de alternativa ao PT. Quanto mais ele e Dilma trocam acusações sobre os feitos e malfeitos de seus partidos e governos, mais Marina se destaca como opção ao que está aí.
Pela primeira vez na história do Brasil e raras vezes na história da humanidade, podemos ter uma transferência de poder de mulher para mulher.
A fatalidade e a conjuntura favorecem Marina. Ela está numa onda que pode virar um tsunami. Do jeito que vai, pode ser mais difícil governar que se eleger.
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