Foi a ombudsman da Folha por quatro anos, de abril de 2010 a abril de 2014. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de "Cotidiano".
Saudade da velha economia
O que era Dinheiro virou Mercado. Há dez anos, chamava-se Economia. A cobertura do caderno econômico da Folha parece estar fechando o foco, o que tem incomodado muitos leitores.
O professor da Unicamp Francisco Luiz Lopreato, 58, diz que não consegue mais extrair uma imagem geral de como anda a situação no país. "Sai matéria sobre balanço de pagamento, mas é uma nota, quase pedindo desculpa", exemplifica.
Na quarta-feira passada, ele usou em aula artigos, reunidos na "Revista de Economia Política", sobre o Plano Cruzado de 1986. "Eram pesos-pesados: Simonsen, Pastore, Eliana Cardoso, Chico de Oliveira. Todos os textos, originalmente, saíram na Folha. Saudades", disse.
Mais novo que Lopreato e trabalhando no mercado financeiro, o economista Flávio Samara Mendes, 25, também está descontente. "Vejo poucas notícias relevantes sobre a conjuntura econômica doméstica e internacional. A cobertura de indicadores se restringe a uma análise e não a diferentes opiniões. O debate parece não existir", afirma.
O incômodo dos leitores faz sentido. Desde a reforma editorial, em maio, Mercado aumentou o espaço destinado a negócios e encolheu o noticiário de macroeconomia.
A seção "Mercado Aberto" cresceu e, nas outras páginas, proliferaram reportagens do tipo "Magazine Luiza promete expansão até 2015", "Salton completa cem anos com foco em vinhos finos" e "Para se expandir, Rossi mira o Nordeste".
Se antes havia uma certa prevenção contra esse tipo de reportagem, simpática a empresas e bancos, não há mais. Mercado fez as pazes com a iniciativa privada.
O problema é que, para fazer uma boa cobertura de negócios, é preciso musculatura: mais repórteres, de preferência especializados. Não dá para um mesmo jornalista cobrir setor elétrico, telefonia e varejo. Ele não dá conta nem ganha "fontes" .
Além de ter de investir em uma área na qual a Folha não tem tradição, o caderno tem menos tempo. Por limitações industriais, Mercado agora é obrigado a finalizar suas edições às 19h, duas horas antes que o resto do jornal.
Tem sido frequente notícias de economia serem relegadas a nota em pé de página no primeiro caderno, sob a vinheta "em cima da hora". Aconteceu nesta semana, quando uma notícia importante -que a capitalização da Petrobras deve ter barril de petróleo a US$ 8- foi editada em apenas cinco parágrafos em Poder. Um dia antes, o assunto tinha sido manchete do jornal.
Sem investimento em equipe, com horário mais apertado e um espaço editorial bem menor do que o do concorrente direto, "O Estado de S. Paulo", a aposta da Folha de diminuir a ênfase em macroeconomia e passar a investir em empresa é ainda mais arriscada.
O perigo é abrir mão de um noticiário no qual o jornal ia bem e substituí-lo por uma cobertura errática e "chapa-branca". No jornalismo de negócios, como nas outras áreas, vale a máxima de que notícia mesmo é aquilo que alguém não gostaria de ver publicado.
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