Foi a ombudsman da Folha por quatro anos, de abril de 2010 a abril de 2014. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de "Cotidiano".
Entre os muros da escola
Em ano eleitoral, políticos ficam ainda mais sensíveis a manchetes desfavoráveis que podem abastecer os programas de TV dos adversários. Mesmo com um título incorreto, que carregava nas tintas, a Folha conseguiu, nas últimas semanas, constranger o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
No último dia 23, a Primeira Página dizia que "Alckmin põe fim às aulas de reforço nas escolas de São Paulo". Não era bem isso.
O que estava praticamente extinto eram as aulas extraclasse dadas fora do horário regular (quem estuda à tarde tem reforço de manhã e vice-versa). No seu lugar, a rede pretende colocar dois professores em algumas turmas: além do titular, um auxiliar responsável por ajudar os estudantes com dificuldades. O governo não abria mão, portanto, da ideia de recuperação.
Além de ter exagerado no título, a Folha errou ao pôr na boca do governador uma afirmação que ele não fez -as explicações eram da Secretaria de Estado da Educação. Uma correção saiu no dia seguinte.
Mesmo diante de tantas falhas, o governador sentiu o golpe. Declarou que estavam mantidas as aulas extras, mas, surpresa, foi "desmentido" pela sua própria assessoria de imprensa, que afirmou que o governador se expressou mal. Em novo encontro com jornalistas, ele reiterou o que tinha dito.
Na quarta-feira passada, a Secretaria de Estado da Educação, devidamente enquadrada pelo governador, pôs um fim ao vaivém, dizendo que a recuperação fora do turno normal será mantida para "as escolas que pedirem".
Vitória da Folha, que conseguiu manter um sistema eficiente na assistência a alunos atrasados? Não dá para saber. A reportagem não foi às escolas, não ouviu professores, crianças e pais para saber se as aulas extras funcionam.
Duas cartas de professores da rede estadual, publicadas no Painel do Leitor, mostram que não há consenso. Para alguns, o sistema atual tem muito desperdício, porque os alunos faltam demais quando são obrigados a voltar à escola fora do horário regular; outros defendem que é impossível, na prática, ajudar estudantes com defasagem durante as aulas normais.
O material publicado era tão ralo que o editorial sobre o assunto, do domingo passado ("Difícil de entender"), enumerava várias perguntas sem respostas e terminava com o que todos sabemos: a escola estadual não forma os estudantes da maneira adequada.
Mostrar como se tenta resgatar as crianças que vão ficando para trás e discutir alternativas seria útil para o debate sobre educação. Contentar-se em pressionar o governador é satisfazer-se com pouco.
BOLA FORA
Colunas de bastidores vivem de declarações anônimas e de informações passadas por pessoas interessadas que não querem aparecer. São campo minado, terreno fértil para todo tipo de plantações e, por isso, exigem cuidados extras.
A Folha tem o Painel, a coluna Mônica Bergamo e o Painel FC, em "Esporte". Este último destacou, no domingo passado, que Carlos Augusto de Barros e Silva, vice-presidente do São Paulo, teria comentado o interesse do seu time por Marcos Assunção (Palmeiras). A afirmação teria sido feita em 23 de março, na sauna do clube Pinheiros.
Em mensagem ao jornal, Barros e Silva negou tudo: nunca falou do jogador e não frequenta a sauna do Pinheiros há anos. Em nota publicada logo abaixo, o Painel FC respondia com canelada: o dirigente estava, sim, na "área da sauna", sentado a uma mesa com amigos.
Barros e Silva não abandonou o campo. Encaminhou os registros de entrada no Pinheiros, mostrando que ele não esteve lá naquele dia. Ontem, saiu um "erramos", sem entrar no mérito principal: ele expressou interesse por Assunção, cujo contrato vence em dezembro?
Se o Painel FC errou o local da suposta conversa, é justo deduzir que ela nunca existiu. Tudo indica que a coluna não seguiu a regra de ouro de checar informação passada "em off" com mais de uma fonte.
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