Foi a ombudsman da Folha por quatro anos, de abril de 2010 a abril de 2014. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de "Cotidiano".
Segredos de hoje... e de ontem
Na cobertura dessa "briga de cachorro grande" entre Gilmar Mendes e Lula, como definiu precisamente um leitor, a Folha não se saiu bem.
Foi a "Veja" que revelou o encontro entre o ministro do Supremo Tribunal Federal e o ex-presidente, ocorrido há um mês no escritório de Nelson Jobim, mas os jornais correram para recuperar o "furo" no próprio domingo. A Folha, sem conseguir falar com Jobim e Lula, editou a notícia timidamente.
No dia seguinte, a Folha.com continuava ignorando que o ex-ministro da Defesa, testemunha do encontro, tinha negado o teor da conversa divulgado na "Veja".
Gilmar Mendes subiu o tom na quarta-feira. "Estado", "Valor" e "Globo" publicaram entrevistas, mas ele se recusou a falar com a Folha. Declarações fortes, como o alerta de que "o Brasil não é a Venezuela", ficaram de fora.
Só nos últimos dias, quando começaram a surgir ressalvas à veemência do ministro do STF, a cobertura achou um eixo.
A guerra de versões entre os dois ex-presidentes, do STF e da República, seria a oportunidade perfeita para voltar ao misterioso caso do grampo de 2008. Gilmar Mendes levantou a bola ao acusar Paulo Lacerda, ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e que estava fora do noticiário, de municiar Lula com "fofocas" para atingi-lo.
Em setembro daquele ano, a "Veja" publicou um diálogo, que teria sido obtido por grampo ilegal, entre o então presidente do STF e o senador Demóstenes Torres. Para a revista, "não havia dúvida sobre a ação criminosa da Abin".
O clima político estava quente por causa da Operação Satiagraha, que investigava Daniel Dantas, e Mendes vinha sendo criticado por ter concedido habeas corpus ao banqueiro.
Com a "revelação" da "Veja", uma onda de apoio ao presidente do STF se formou e Lula afastou Paulo Lacerda da direção da Abin. "Não há mais como descer na escala da degradação institucional", afirmou Mendes à época.
Uma investigação policial, que demorou dez longos meses, não encontrou o áudio e concluiu não ser possível afirmar que houve grampo.
A denúncia sobre a escuta no STF ocupou a manchete da Folha por cinco dias seguidos. A conclusão de que não havia "corpo" no crime não teve menção na "Primeira Página".
A Folha se precipitou em 2008? Não. Vivia-se, como agora, uma "festa de grampos", era plausível que altas autoridades de Brasília fossem alvos de arapongas. Mas o jornal errou depois, ao abandonar logo o caso e ao não dar destaque ao final da investigação.
Do mesmo modo, a Folha não poderia ignorar o bate-papo de Mendes e Lula, como sugeriram alguns leitores. O encontro é notícia e, no contexto das pressões sobre o julgamento do mensalão, a versão apresentada é verossímil.
Para não repetir os erros do passado, o jornal não pode, porém, se contentar em repercutir a "Veja" até que o caso esfrie e a próxima polêmica apareça. Precisa persistir na investigação para não ser acusada de "se prestar a uma rede de intrigas", como alertou o próprio ministro Gilmar Mendes.
UM GENTLEMAN NA BARÃO
Sem ofensas aos inúmeros convidados que já vieram à Barão de Limeira, mas a Folha nunca tinha recebido alguém tão elegante quanto Gay Talese, 80, lendário jornalista americano.
De colete e chapéu, Talese, conhecido pelo requinte de sua escrita, falou a uma plateia de jovens sobre os encantos (e desafios) do jornalismo. Sua maneira de definir a profissão é animadora: uma Redação é a reunião de pessoas em busca da verdade. "É a menor concentração de mentirosos", disse, comparando, entre risos, com advogados, banqueiros ou políticos. Tomara que ele esteja certo.
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