Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
A fila anda, mas para trás
Na quarta-feira, a seleção teve mais uma excelente atuação. Neymar está cada dia mais espetacular. Willian foi outro destaque. Quem sabe ele se torne o jogador especial, fora de série, que esperavam que Oscar fosse? Depender demais de Neymar é bom, pois raras seleções têm um jogador como ele, e também é ruim, porque ele não vai atuar sempre bem nem vai jogar todas as partidas.
Em alguns jogos, a seleção não pode prescindir do talento ofensivo de Marcelo. Achar que Thiago Silva é reserva, porque a equipe não sofreu gols nos cinco jogos, é ter uma visão estreita. Thiago Silva é um dos melhores zagueiros do mundo. Além disso, não está na reserva porque jogou mal.
Pego carona nas indagações brilhantes do jornalista inglês Tim Vickery, radicado no Brasil há muitos anos, ditas no "Redação SporTV", de que as ótimas atuações e vitórias da seleção, com Dunga e também com Felipão, na Copa das Confederações e nos amistosos antes do Mundial, indicariam que, por inúmeros fatores, como os emocionais, muitas coisas seriam próprias da Copa do Mundo e não refletiriam a qualidade das seleções.
Teria sido, então, um apagão contra a Alemanha? O placar de 7 a 1 é muito mais que isso. Além disso, o Brasil jogou mal os outros jogos do Mundial. Há outras explicações que se completam. As grandes seleções se preparam muito melhor para a Copa e jogam os amistosos, incluindo a Copa das Confederações, sem a seriedade da seleção brasileira.
Assim como aconteceu após outros Mundiais, as principais seleções da Copa de 2014 continuam de ressaca. Alemanha e Holanda estão mal nas Eliminatórias para a Eurocopa. A Argentina, com todos os seus craques, ganhou por 2 a 1, nesta semana, dos reservas da Croácia, com um gol irregular. Porém, aos poucos, as coisas estarão em seus devidos lugares.
As boas atuações e as vitórias da seleção atual repetem o que ocorreu depois da Copa de 2006, também com Dunga.
Neste momento, para recuperar o prestígio, nada melhor que um técnico disciplinado e exigente. Dunga e Felipão são bons treinadores, mas o time brasileiro deveria ter alguém com novos conceitos, além dos lugares-comuns.
A história se repete. Não ficarei surpreso com o retorno de Felipão, caso a seleção não seja campeã em 2018. Dunga voltaria em 2022. Os argumentos para contratá-los seriam os mesmos. Neste período, um amigo de Marín e de Del Nero seria eleito presidente da CBF. A fila anda, mas só para quem faz parte da patota. Isso é bastante comum na vida brasileira.
Se me perguntarem a quem invejo, responderei, sem hesitar, que é o poeta Manoel de Barros, por causa de seus belos poemas, de sua paixão pelo silêncio e pela grandeza das coisas ínfimas, desimportantes.
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