Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
Palavras e condutas mágicas
Na coluna anterior, escrevi, com ironia, sobre a preferência dos treinadores, de todo o mundo, por jogadores que voltam para marcar, que recompõem, em relação aos que têm mais talento, mas que não fazem isso bem. Evidentemente, recompor é essencial, mas não precisa exagerar. Em vez de escolher os piores, os técnicos deveriam treinar os melhores para executar bem o que desejam.
A razão de o técnico Edgardo Bauza insistir tanto com Centurión é a de que ele recompõe muito bem. Na primeira partida do Atlético-MG na Libertadores, Aguirre colocou Robinho no lugar de Cazares, que jogava bem, e manteve Patric, que jogava mal, mas que recompunha bem. Os torcedores vaiaram. Parece que Aguirre não entendeu a brincadeira, a ironia do torcedor, de tratar Patric como um craque, um grande ídolo, mesmo reconhecendo seu esforço e suas virtudes. Patric é um jogador útil ao elenco.
Recomposição, intensidade, compactação e tantas outras palavras da moda são usadas pelos comentaristas para tentar explicar o inexplicável.
"Os que têm estudo explicam a claridade e a treva, dão aulas sobre os astros e o firmamento, mas nada compreendem do universo e da existência, pois bem distinto do explicar é o compreender, e quase sempre os dois caminham separados" (João Ubaldo Ribeiro, em "O Albatroz Azul").
Corinthians, Grêmio e Palmeiras jogam neste meio de semana pela Taça Libertadores. O técnico Tite deve estar em dúvida se escala os jogadores que já estavam no ano passado, mais adaptados à maneira de jogar da equipe, se coloca os que chegaram, se mistura os dois grupos e/ou se cria uma variação tática, para atender às características dos novos contratados. Todos os bons técnicos têm dúvidas, menos os medíocres.
No Grêmio, Roger também está em dúvida se escala Bolaños desde o início, na linha dos três meias. Sairia Douglas, Everton ou o volante Edinho, substituto de Wallace, contundido, passando Giuliano para a posição de volante.
Marcelo Oliveira, que passa por mau momento, tem milhões de dúvidas. O time continua torto, sem um jogador pela direita, que ataca e recompõe rapidamente. Uma das soluções seria escalar Dudu e Gabriel Jesus pelos lados, sem posições fixas, para aproveitar a habilidade e a velocidade dos dois nos contra-ataques, entrando em diagonal para o centro, no momento certo. Contra-atacar, não jogar na defesa. O contra-ataque começa onde o time recupera a bola, que pode ser próximo à área adversária.
Fora os erros de Marcelo Oliveira na organização da equipe, frequentes também com outros técnicos, existe uma avaliação equivocada de que o elenco do Palmeiras é ótimo e que, se o time não jogar bem, a culpa é somente do treinador. O elenco é maior, mas o time titular, individualmente, é igual aos outros grandes.
Continuam as eternas discussões sobre o momento de substituir o técnico. Alguns deveriam sair antes de entrar. A principal razão de tantas mudanças é a supervalorização que os treinadores tiveram ao longo do tempo, como se tudo o que acontece em uma partida seja decorrente da ação do técnico. Existe ainda a ilusão de que um novo treinador trará novas e mágicas soluções. A descontinuidade trava a evolução das equipes.
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