Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
e aos domingos.
Receio que os jovens técnicos não valorizem a qualidade do espetáculo
Robson Ventura/Folhapress | ||
O técnico Fábio Carille, de 44 anos, está perto de conquistar o título brasileiro com o Corinthians |
O Brasileiro está na reta final, e ainda não sabemos quem será o campeão, os rebaixados e os classificados para a Libertadores e para a Copa Sul-Americana. Fora os quatro últimos, quase todos atingirão algum objetivo. Os regulamentos estão muito bonzinhos.
Qualquer que tenha sido o resultado do jogo de sábado (11), contra o Avaí, o Corinthians está muito perto do título. Após a excepcional e surpreendente campanha no primeiro turno e a péssima no segundo, até a partida contra o Palmeiras, o Corinthians voltou à normalidade. Como se previa no início da competição, o time está no nível das melhores equipes do Brasil.
Pena que os grandes clubes pensam muito mais na vaga da Libertadores do que em serem campeões. Isso empobrece o futebol brasileiro. Se o Grêmio ganhar a Libertadores, não significa que a conduta de colocar todos os reservas em vários jogos foi correta. A cada partida, poderia poupar alguns titulares diferentes, sem perder a qualidade técnica, no Brasileiro e no torneio continental.
Um dos destaques do Brasileiro é Hernanes, um ambidestro completo, raro, que dribla, passa, domina a bola e finaliza bem com os dois pés. Ele é também, no Brasil, um raro meio-campista, por atuar, com eficiência, de uma intermediária à outra. É volante e meia. Além das qualidades técnicas, Hernanes possui um mundo particular, criativo e onírico, uma mistura de filósofo e poeta.
Outro fator positivo no Brasileiro é a presença de vários treinadores jovens, estudiosos, loucos por futebol, na direção de grandes equipes. Eles estimulam os mais experientes a se atualizarem. Receio que muitos deles, tão obcecados pela informação, pela disciplina tática e pelos resultados, não valorizem tanto a qualidade do espetáculo nem desenvolvam a capacidade de improvisar, deduzir e observar os detalhes objetivos e subjetivos. O futebol precisa dos pragmáticos e dos inventivos.
Enquanto os pragmáticos e utilitaristas buscam a perfeita organização, os criativos e transgressores procuram a perfeita imperfeição, para manter o desejo de querer sempre fazer diferente e melhor.
PASÁRGADA
Passo boa parte do dia em casa, onde escrevo, leio e vejo milhares de noticiários, programas esportivos e partidas de futebol. Faço por prazer e por obrigação. Não aguento mais tantas notícias ruins sobre violência, crimes, corrupção, terrorismo, preconceitos e sobre a crônica miséria social brasileira, que os incompetentes, corruptos e demagogos não conseguem amenizar.
Preciso ficar menos tempo diante da TV e selecionar os programas esportivos e os jogos de futebol. Ainda bem que há ótimas reportagens sobre arte e cultura na televisão, como as dos canais Curta e Arte 1, além de matérias especiais de outras emissoras.
De vez em quando, penso em mudar para um lugar perdido no mundo, a minha Pasárgada. Flanaria pelas ruas, sem medo da violência, conversaria e divagaria sobre o cotidiano e a existência humana. Uma utopia. Não conseguiria também viver longe das pessoas queridas. Conversar e ver o outro pela internet não é a mesma coisa.
Vou tentar fazer de Belo Horizonte minha Pasárgada, cidade de que gosto, que faz 120 anos no próximo mês, onde vivi quase todos os meus 70 anos e por onde caminho todos os dias, por prazer e para tentar driblar a velhice e prolongar a vida.
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