Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Barreira da Rússia à carne brasileira ocorre em momento ruim para o setor
A Rússia comunicou ao Ministério da Agricultura que fará uma interrupção de compras de carne bovina e suína de dez frigoríficos brasileiros.
O comunicado vem em um momento ruim para o setor: as exportações estão em queda; os custos sobem e a oferta de boi é reduzida.
A Rússia tradicionalmente usa a artimanha de fechar mercados para barganhar nas compras. Mas, desde o ano passado, o país teve praticamente todos os grandes mercados de proteína fechados, devido à crise política na Ucrânia.
O Brasil passou a ser o foco principal dos russos, devido à importância no país na produção de frango, de bovinos e de suínos.
Os motivos dessa interrupção nas compras podem ser os relatados no comunicado enviado ao governo brasileiro. Em auditoria em março, os russos teriam encontrado problemas sanitários nesses frigoríficos. É bom lembrar que sempre tem alguém que deixa de fazer o dever de casa, colocando o setor em xeque.
É bom lembrar também que o preço do petróleo, uma das principais fontes de divisas da Rússia, caiu no último ano. Com uma taxa de câmbio desfavorável, a carne ficou cara para os russos.
Barreiras desse tipo poderiam melhorar os preços para eles -o que não deve ocorrer devido à escassez de animais, principalmente de bois.
UNIÃO EUROPEIA
Mas o Brasil não encontra problemas de compras apenas do lado da Rússia. A União Europeia também diminuiu as compras no Brasil.
Estatísticas da UE indicam que o bloco importou 104 mil toneladas de frango do Brasil até março. Com esse volume, o país ainda é responsável por 55% das compras dos europeus. Uma boa participação, mas que recua ano a ano. Em 2011, a carne brasileira representava 72% das compras da União Europeia.
Enquanto o Brasil perde participação, a Tailândia avança. Em 2011, o país asiático era responsável por apenas 18% das compras dos europeus. No primeiro trimestre deste ano, chegou a 35%.
A menor participação reflete uma queda de 21% nas importações de carne de frango do Brasil pela UE no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado.
Já a Tailândia, com a venda de 66 mil toneladas no período, aumentou em 23% as vendas aos europeus.
A UE também importou 1,4% menos carne bovina brasileira de janeiro a março, segundo informações da comissão do bloco voltada para a agropecuária.
Mesmo com a queda, o Brasil continua sendo o maior fornecedor dessa proteína aos europeus. Ao importar 33,9 mil toneladas de janeiro a março deste ano do Brasil, os europeus garantiram 46% desse mercado, em volume, aos brasileiros.
Se o volume de importações europeias teve leve queda no mercado brasileiro, aumentou 10% nos Estados Unidos e da Argentina.
Do lado das exportações, a Rússia foi a grande perda para os europeus. Devido aos atritos comerciais entre os russos e parte dos países desenvolvidos, a União Europeia vendeu 99% menos carne de frango para os russos; 94% menos carne bovina, e 91% menos carne suína no primeiro trimestre deste ano.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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