Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Crise da carne recai sobre o bolso do pecuarista, e arroba despenca
Pierre Duarte - 21,dez,15/Folhapress | ||
Gado da raça angus em pasto da fazenda Cardinal, e, Mococa (SP) |
A crise vivida pelo setor de carnes deságua cada vez mais no bolso do pecuarista.
Após a Operação Carne Fraca e a delação premiada dos donos da JBS, os preços internos, que tradicionalmente caem no período de inverno, desabam ainda mais.
Na terça-feira (6), a arroba do boi foi negociada a R$ 130,21, em média, menor valor nominal desde outubro de 2014.
Se considerada a média mensal de junho, deflacionada pelo IGP-DI, os preços do boi são os menores desde setembro de 2013.
Os dados são do Cepea (Centro de Pesquisa Econômicas Avançadas), ligado à Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da USP.
Além de receber um preço menor pelo gado, o pecuarista foi submetido também a uma mudança na comercialização do animal. A JBS, principal compradora de gado do país, passou a fazer pagamento somente a prazo.
Para fugir dessa venda a prazo, o pecuarista recorreu a outros frigoríficos. O resultado é que a escala de abate do JBS ficou apertada e a dos outros alongou.
Os frigoríficos que tiveram a escala ampliada começaram a escolher melhor os animais e a pagar menos. Já a JBS, devido à dificuldade de compra em várias regiões, vem pagando mais pelo boi.
Em algumas regiões, a empresa paga R$ 3 acima do que pagam outros frigoríficos pela arroba.
Até então, a JBS exercia uma pressão nas compras de animais, devido ao poder de fogo que tem nas diversas regiões do país. Essa pressão na compra de gado começa a passar para outros frigoríficos.
Segundo Mariane Crespolini, pesquisadora do Cepea, essas incertezas do mercado complicam ainda mais o setor em um período de fim das águas e de condições de pastagens menos favoráveis.
Além disso, a pecuária vinha retendo fêmeas desde 2013, o que significa que aumentou o número de bezerros e, consequentemente, o tamanho do rebanho disponível para abate.
Os abates de fêmeas somava 42% dos animais destinados aos frigoríficos em 2013. No ano passado, esse número caiu para 38,6%.
Dos abates totais de animais em Mato Grosso, líder na pecuária, Crespolini destaca que 49% foram feitos pela JBS; 11% pelo Marfrig e 7% pelo Minerva. Os demais ficaram com 33%.
BOICOTE
Enquanto o boicote contra a carne da JBS estiver limitado a empresas isoladas, o efeito sobre as vendas da fornecedora não será grande.
Os pecuaristas estão preocupados, no entanto, que esse boicote se estenda pelas redes varejistas.
*
Comércio de carnes entre Brasil e EUA ainda é fraco
O comércio de carne "in natura" entre Brasil e Estados Unidos, aprovado no ano passado, continua fraco.
Os Estados Unidos enviaram para o Brasil apenas 18 toneladas, enquanto o Brasil exportou 12 mil toneladas de carne congelada e 8 de carne fresca para os americanos.
O Brasil não tem uma cota específica de exportação para os Estados Unidos. Disputa 64,8 mil toneladas liberadas pelos americanos para vários outros países. De janeiro a maio, 49% dessa cota foi preenchida.
A carne norte-americana que se encontra no mercado brasileiro tem uma boa margem em relação à nacional.
Um quilo de picanha dos Estados Unidos, trazida pela JBS, custa R$ 70, acima dos R$ 50 de uma peça argentina e dos R$ 39 do produto nacional.
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