Foi repórter especial da Folha. Cobriu os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília.
Sagrada Credibilidade
Meio que aos trancos e barrancos, o governo Dilma disparou operação para recuperar a credibilidade do seu Banco Central, sempre questionada desde o início do mandato da presidente petista. Agora, num momento em que a inflação volta a preocupar, o governo (re)descobre a importância de o mercado enxergar no Banco Central liberdade de atuação, mesmo que em detrimento das vontades palacianas de curto prazo.
O fato é que o próprio governo contribuiu, e muito, para que fosse criada no mercado a imagem de um BC de mãos atadas, atuando de acordo com o ritmo e desejo do Palácio do Planalto. Esse processo teve e continua tendo um custo elevado para o Banco Central e inclusive para a presidente Dilma.
Fica muito mais difícil, para não dizer quase impossível, controlar e guiar as expectativas do mercado e da economia real quanto ao comportamento da inflação quando se cristaliza a imagem de um Banco Central dependente do governo central. O resultado é sempre uma inflação mais resistente a ações do governo, dado que o mercado e os agentes da economia real passam a acreditar que teremos mais inflação e que o BC não terá mandato livre para fazer o que é necessário.
Acionado o freio de arrumação palaciano, a expectativa é que, a partir de agora, o tema juros fique a cargo da equipe do Banco Central, com o Ministério da Fazenda buscando se abster de fazer comentários sobre o assunto, mesmo que seja para reforçar a autonomia do BC.
Afinal, a insistência no discurso pode ter, inclusive, efeito contrário, dado que pode soar falso e ensaiado, uma estratégia para esconder o verdadeiro plano palaciano de segurar, a qualquer custo, os juros num patamar muito baixo.
A tendência é termos cada vez mais falas de diretores do BC sinalizando, como tem feito o presidente da instituição, Alexandre Tombini, que os ciclos monetários não foram abolidos. Ou seja, que o BC pode elevar os juros a qualquer momento, desde que a inflação saia dos cenários traçados pela autoridade monetária.
Até aqui, porém, o BC avalia que a inflação está sob controle, ficando acima de 6% no primeiro semestre na taxa anualizada, mas recuando no segundo. E com os índices mensais em queda. Confirmado este cenário, o BC ficará mais nas advertências, forçando um pouco os juros futuros, mas pode não mexer na taxa Selic, hoje em 7,25%.
Algum recado deve ser transmitido na próxima reunião do Copom, exatamente para reforçar esta estratégia. Tudo na busca de reforçar a imagem de autonomia. Algo que, por sinal, a turma do Palácio do Planalto parece ter compreendido. Falta o resto do governo seguir o exemplo palaciano. O pior dos mundos será descobrir que o Planalto gosta do jogo duplo, algo improvável, mas não impossível.
Afinal, para presidente Dilma, o mais adequado é que o BC aja agora, se considerar necessário, do que ficar postergando algo inevitável. O custo seria muito mais elevado e recairia sobre 2014, o ano da reeleição da petista. A conferir.
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