É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Liberdade dos bispos
SÃO PAULO - Pastor ou professor? A Igreja Católica debate o perfil do novo líder a ser eleito em março. O experimento algo frustrante com Bento 16, teólogo circunspecto, recomendaria um sucessor atilado nas lides com a comunidade dos fieis.
A distinção soa artificial para quem observa a trajetória, nos primórdios do Cristianismo, de Paulo de Tarso --o mesmo que, feito santo, dá nome a esta cidade brasileira. Converter e convencer, ensinar e revelar, criticar e erigir eram missões inseparáveis no apóstolo tardio.
Paulo, encarregado da evangelização em grandes centros do Império Romano, foi o pilar da emancipação do movimento cristão em relação ao Judaísmo. Liberou a nova crença da rigidez, do localismo e do hermetismo judaicos. Abriu portas para um inédito monoteísmo de massas, franqueado a todos, e não só ao povo eleito.
Mas a força de Paulo --a sua pregação acerca do caráter libertador da fé no redentor, em oposição ao statu quo da lei mosaica-- precisou ser controlada à medida que a Igreja Católica crescia e se confundia, ela própria, com o establishment.
A salvação do espírito só seria válida nos termos da organização eclesiástica. A liberdade espiritual de que falava Paulo --que poderia abonar leituras dispensando mediações na ligação entre fiel e criador-- foi transferida para o conjunto dos bispos.
No segundo e no terceiro séculos da era cristã, um profundo trabalho de depuração foi realizado pelos líderes da igreja. Traçou-se a genealogia dos bispos, a fim de atestar a sua relação histórica e espiritual com um dos apóstolos de Jesus.
A filiação do bispo de Roma, que viria a ser o chefe da igreja, foi atribuída a Pedro, o pescador do mar da Galileia. Paulo, que como Pedro fora morto na capital do império, sumiu desse mapa. A igreja entendeu que seria prudente separar os papeis entre o professor e o pastor --e controlar bem seus exercícios.
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