É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
A revolução da lei
SÃO PAULO - Faz sentido o Movimento Passe Livre não querer criminalizar os chamados black blocs, que liberam energia revolucionária quebrando lojas, bens públicos e agências bancárias. Ambos, anticatraqueiros e mascarados, brincam no jardim da infância a que regrediu certa ação política de esquerda no país.
Nesse terreno fantástico, embalado em construtivismo poético, toda repressão há de ser repudiada. Toda regra de conduta que pretenda limitar o desejo original e fraterno do "coletivo" deve ser rejeitada.
Esses garotos mimados –alguns entrando na quarta década de vida– dão valor absoluto a sua vontade. Em seu playground anticapitalista, a falta de limites para a ação, e de quem os questione com autoridade, favorece a confusão mental.
A imaturidade reflexiva os impede de enxergar que grande presente deram aos patrões, cujo vale-transporte repassado aos trabalhadores ficou congelado em razão dos protestos do ano passado. Tampouco vislumbram o golpe duradouro que isso representou na capacidade da prefeitura de investir no bem-estar urbano de milhões de paulistanos mal remediados.
Num país ainda infectado pelo patrimonialismo, cujos beneficiários atropelam os deveres legais em nome de sua vontade e seu interesse, revolucionário é submeter todos os cidadãos ao conjunto de regras da convivência civil. Isso significa responsabilizar, reprimir e criminalizar quem desrespeita esse acervo civilizatório.
Depredar patrimônio é crime. Fazer manifestação de rua sem aviso prévio às autoridades afronta a Constituição. O direito de circular na cidade é tão importante quanto o de reunir-se e o de protestar. Daí decorre a necessidade de negociar em que locais e sob quais restrições de espaço ocorrerão os atos coletivos.
A qualidade da vida civil brasileira dará um salto quando todos se sentirem responsabilizáveis por suas atitudes públicas.
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