É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Dinheiro na campanha
SÃO PAULO - A primeira parcial da prestação de contas de campanha permite concluir pouco acerca da dinâmica e da especificidade deste certame de 2014.
O conglomerado e frigorífico JBS, carregado de empréstimos estatais e assim transformado em "campeão nacional" pela política industrial de Lula e Dilma, parece despontar como novo grande doador. O PT larga numa dificuldade de arrecadar que não demonstrava em 2010.
Com as candidaturas ainda em aquecimento, tudo pode mudar. Bancos e empreiteiras, interessados nos negócios e nas regras do governo, tendem a fazer-se salientes. A eficiente máquina petista tem plena condição de recuperar o atraso.
Pode-se dizer com mais certeza desse formato de relação entre empresas e candidaturas que ele está ameaçado. A maioria do Supremo Tribunal Federal considera inconstitucional a doação de dinheiro de empresas a partidos políticos.
É provável que o julgamento acabe a tempo de a decisão vigorar nos próximos anos, talvez já em 2016. Na prática, o fato jurídico levará à implantação do financiamento exclusivamente estatal da política.
Mais uma vez, o Supremo está prestes a atropelar a prerrogativa do Congresso de decidir as regras do jogo eleitoral. A reforma política togada obrigará deputados e senadores a discutir remédios para um fato consumado, um divisor de águas.
O financiamento público único daria poder descomunal às cúpulas partidárias, responsáveis pela distribuição das verbas. Se vier o voto em lista, no qual os mandachuvas das siglas definem a ordem de preferência de candidatos para a eleição, a centralização seria acentuada.
Os objetivos da reforma política deveriam ser ampliar a efetividade do voto e baratear campanhas. Mas, instada pelo STF, Brasília vai repassar ao pagador de impostos uma conta maior por um sistema perdulário e pouco representativo.
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