É secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno 'Mundo'.
Escreve às segundas-feiras.
Estrela solitária
SÃO PAULO - Os atos de junho de 2013 eram um misto de efervescência juvenil de esquerda com desabafos dispersos ao centro e à direita. O PT e a presidente Dilma Rousseff puderam apegar-se a certas bandeiras e a grupos que então protestavam. Não podem mais.
Não há lideranças de "movimentos sociais" a ser chamadas para uma conversa no Planalto. Não há política pública capaz de atender à reivindicação "Fora, Dilma" que tende a prevalecer com a evolução do certame de protestos agora inaugurado.
Este movimento multitudinário de centro-direita representa uma novidade em 30 anos de democracia de massas. O grito nas ruas é popular porque se vincula à frustração, disseminada pelas classes de renda, com o governo federal e a presidente.
Seu perfil é de centro-direita porque, desde a revolta dos caminhoneiros, as dificuldades de empreender e consumir são causas patentes da insatisfação. Como o ambiente restritivo decorre de uma política econômica de esquerda, a surpresa se dá mais pelo volume que pelo teor da reação.
A República no Brasil, em traço tributário de 125 anos de decantação, convive mal com presidentes fracos. A margem de Dilma para governar por medida provisória e para vetar em parte ou na íntegra atos do Legislativo –dois superpoderes do chefe de Estado no país– estreitou-se abruptamente.
Agora a presidente terá de lidar com multidões na rua a pedir sua saída, reflexo de (e impulso para) péssimos índices de popularidade. Dilma tem meios de estabilizar o jogo, mas precisa de um plano urgente para recobrar nem que seja um terço do poder presidencial. Do contrário, correrá risco cada vez maior de assistir à resolução do impasse via impeachment ou ver-se forçada a renunciar.
Terminar o segundo mandato como FHC, mal avaliada mas no controle do governo, passa a ser uma meta razoável, e por enquanto otimista, para a presidente Dilma.
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