Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.
O dólar vai ser uma novela
A virada de 2013 para 2014 tem sido conturbada, como era previsível. Estamos em pleno período de readaptação do mercado financeiro mundial à mudança na política econômica americana e de quase escuridão no que diz respeito à política fiscal (de gastos) do governo brasileiro.
O real continua fracolejando próximo da cotação de R$ 2,40, em tese fraco demais, dada a projeção dos economistas "do mercado" de que o dólar terminaria o ano por volta de R$ 2,45 (mas previsão de câmbio é sempre a mais furada da praça).
O real tropeçou de novo ontem como tantas outras moedas do mundo, assim como a Bovespa acompanhou o tombo das suas primas de países "emergentes", embora as ações daqui se tenham estatelado de modo mais feio que a média.
No mais e mais importante, parece que o motivo da baixa de ontem foi o de sempre, indicadores econômicos e declarações de autoridades americanas de que os Estados Unidos agora vão em frente, a crescer mais de 3%, o que levará o Banco Central deles a fechar a torneira de dinheiro até o final de ano.
Tal atitude, em tese, vai desvalorizar ativos que ficaram caros durante o "tsunami monetário" (a torrente de dinheirama do BC americano, de 2008 até agora), entre eles o real brasileiro, como já é mais do que sabido.
Isso quer dizer que o real segue ladeira abaixo, daqui por diante? Bem que o colunista quereria saber, pois assim ficaria rico. Mas mesmo quem vive muito bem disso não tem a menor ideia, pois sabe-se lá qual será o ritmo de recuperação americana; há dúvidas mesmo sobre a previsivelmente ruim política econômica de Dilma Rousseff e sobre o comportamento da economia brasileira em 2014.
No seu discurso de final de ano, a presidente insinuou que entendeu politicamente que é preciso dar uma maneirada nos gastos (economicamente, esse não parece ser um problema real no entendimento do governo). Tem dado a entender que haverá menos dinheiro para o BNDES, menos "pau na máquina" dos demais bancos públicos e que alguns impostos voltarão (estão voltando) a ser cobrados.
No entanto, Dilma enfatizou que o crescimento do gasto social será mantido.
Logo, está difícil de estimar o tamanho do desapontamento fiscal do ano. Não sabemos se a receita de impostos vai reagir (cresceu quase nada em 2013) e se o crescimento da despesa
social será o mesmo (foi o responsável pelo aumento do deficit). Quanto pior o resultado, maior a possibilidade de desvalorizações maiores e mais acidentadas do real.
Pode haver, claro, notícias positivas ou ao menos favoráveis ao real. Se a recuperação americana ajuda a jogar o real para baixo, pode também aumentar o consumo de produtos brasileiros. A própria alta de juros no Brasil pode (pode) ter o efeito de atrair algum capital e evitar deslizamentos cambiais feios.
Está mais difícil do que sempre saber do balanço das forças, até porque a gente ainda não conhece muito do que vai pesar.
De menos incerto é que o governo pode arrumar confusão grande se não apresentar um resultado decente (em volume e qualidade) nas contas públicas. Nesse quesito, começou mal o ano.
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