Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.
A agonia da sobrevida
Figuras graúdas da finança dão como certa a queda de Joaquim Levy, em conversas reservadas. Essas pessoas fazem questão de dizer que não têm informação privilegiada e que lamentam o destino do ministro, registre-se. Mas não acreditam mais que ele fique.
Ontem, Lula foi a Brasília atirar de novo em Levy, espalhando estilhaços por meio de parlamentares petistas. Disse que o ministro não tem mais apoio "nem no mercado financeiro, embora seja querido"; que Levy não tem "jogo de cintura", que tem um "discurso que cansou", que o país precisa de "alguém que traga esperança", no relato de um parlamentar.
Também ontem, um assessor graduado da presidente ligava espontaneamente para "enfatizar" que o ministro deu "sinal de força", pois o acordo do governo com o Congresso sobre o Orçamento saiu na linha do que desejava Levy, com "respaldo" de Dilma Rousseff.
Quer dizer, acertou-se com a Comissão Mista de Orçamento que na lei orçamentária de 2016 não vai haver "banda" ou "meta flexível", mas um superavit primário fixado em 0,55% do PIB para o governo federal (0,7% para todo o setor público).
Isso então é uma vitória. Para alguém que leva tanto chumbo, trata-se de sinal de sobrevida. Mas o que o ministro teria vencido?
Bons economistas estimam que 2016 será de mais deficit, algo em torno de 1% do PIB, sem contar despesas de velhas pedaladas. Previsões são o que sabemos: no início do ano, o mercado previa superavit de 1% do PIB para 2015. Sem pedaladas, deve haver deficit de pelo menos 1% do PIB. Um erro de mais de R$ 100 bilhões.
Não é o que importa, aqui. O fato é que ninguém da praça acredita na meta do ano que vem.
De resto, a recessão vai ainda se espalhar feito lama tóxica pelas ruas em 2016, vai engolir ainda mais empregos e empresas. Vai ser mais sentida na carne, "nas ruas", do que neste ano. A culpa vai sobrar para Levy.
SINISTRO, HISTÓRICO
Do relatório dos economistas do departamento de pesquisa do Itaú, divulgado na tarde de ontem:
"A atividade econômica não oferece sinais de estabilização... O investimento deve ter recuo maior do que prevíamos. Alteramos a projeção para o PIB em 2015 para -3,2% (antes, -3%). Para 2016, revisamos a queda para -2,5% (antes, -1,5%)".
A economia vai encolher, trimestre por trimestre, até setembro de 2016. No final de ano, fica es- tagnada.
A inflação deste ano deve fechar em 10,1%. Em 2016, em 7%, acima do teto da meta, de 6,5%.
Caso se confirmem essas previsões para o crescimento da economia, a renda per capita (PIB per capita) no Brasil terá diminuído 7,8% no triênio 2014-2016 (esta conta não é do Itaú).
Os números do PIB de Dilma 2 começam a chegar perto do segundo maior desastre do século, o triênio de Collor (1990-92), quando a retração foi de 8,4%. Empata com as crises de 1931 e 1916. Mas esses PIBs remotos não valem muita comparação, se por mais não fosse porque foram calculados a posteriori (o PIB começou a ser medido em 1947).
O recorde do final da ditadura deve permanecer inigualado, queiram os céus: queda de 12% de 1981 a 1983.
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