Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.
Lula no governo e a economia
Parece tristemente cômico ou louco perguntar, mas: o que será feito da política econômica com a entrada de Lula no governo Dilma?
Nem dentro da Fazenda imaginava-se nesta terça (15) o que fará Lula.
Lula tem fritado, com amor, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Os colegas de Barbosa, ministros do Palácio do Planalto, cozinham Barbosa ou, pelo menos, os seus planos já bastante modestos de reforma e contenção do desastre econômico. O PT propõe um plano de "dobrar as metas" do governo Dilma 1, que nos trouxe a esta ruína.
Lula no governo esqueceria imediatamente o que tem dito nos últimos meses? Deixaria de lado as ideias que o levaram, com apoio do PT e seus ministros diletos, a fritar Joaquim Levy e a cozinhar Nelson Barbosa? Recorde-se: Lula derrubou todos os ministros próximos de Dilma Rousseff, neste segundo governo. Agora, falta apenas Barbosa, que talvez não venha a ser decapitado, mas corre o risco de se tornar decorativo tanto em caso de "virada à esquerda" ou "à direita";
Como se sabe, Lula tem pregado ao menos para sua galera a adoção de medidas como aumentar o crédito, relaxar gastos públicos, baixar juros e qualquer coisa que, ele acha, "dê esperança". Talvez Lula até queira arriscar o uso das reservas "em dólar" do Banco Central a fim de bancar um aumento de despesa, medida que, no entanto, equivale a algo assim como tentar não morrer de fome bebendo o próprio sangue.
Esse Lula não chegaria a ser a "virada vermelha", como pretendem economistas do PT. Ainda assim, haveria sangue na praça financeira, do que tivemos amostra-grátis neste início de semana.
Quanto mais vermelha a virada, mais tumulto haveria, "business as usual", dólar e juros em alta etc.
Pode-se objetar que não se esperava quase mais nada de Dilma Rousseff além de um esparadrapo fiscal. A presidente já mandara a reforma da Previdência para longe, depois da eleição de outubro. No Brasil de hoje, longe é um lugar que não existe, para fazer uma citação sarcástica. Ainda assim, o arroz com feijão da política econômica dilmiana provocaria, nos próximos meses, "apenas" uma ruína lenta, gradual e segura. Com a "virada", o risco seria de explosão.
Lula poderia rasgar a fantasia esquerdista que vestiu nos últimos meses? Dizer "às bases", outra vez, que seria necessário algum sacrifício, pois "o milagre do crescimento" logo começaria, como o fez até mais ou menos 2006? Vai mandar prender, metaforicamente, as tropas rebeladas dos movimentos sociais?
Pode até ser, talvez Lula acredite que o apoio das "suas ruas" não seja mais relevante para conter a queda de Dilma. Importante seria tentar um acordão no Congresso, com o PMDB restante, chamando [Henrique] Meirelles outra vez para um governo "provisoriamente" ortodoxo.
Seja como for, as opções da economia de um Lula 3 são estas: arroz com feijão e, alucinadas ou improváveis, "virada vermelha" e "chama o Meirelles" (o ex-presidente "ortodoxo" do Banco Central do governo Lula).
Enfim, a gente esquecia: que tipo de confusão pode dar com Lula e Dilma no mesmo balaio?
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