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Governo usa caminhão frigorífico para guardar corpos no IML em AL
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RICARDO RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MACEIÓ
O governo de Alagoas alugou um caminhão frigorífico para armazenar corpos de vítimas de mortes violentas durante a greve dos médicos legistas do IML (Instituto Médico Legal) de Maceió e de Arapiraca (a 152 km da capital).
O aluguel do caminhão baú foi confirmado pelo diretor-geral do IML de Maceió, Luiz Antônio Mansur, que está no cargo há menos de uma semana. Ele assumiu depois que seu antecessor, Gerson Odilon, pediu demissão e aderiu à paralisação.
"Entrei no clima de São João, pegando em rabo de foguete", afirmou Mansur. "É uma situação atípica. Os corpos não param de chegar e não tínhamos outra alternativa senão tomar providências semelhantes às de momentos de guerra", acrescentou.
Para evitar uma reação violenta dos parentes dos mortos --como ocorreu no sábado (23), quando a polícia foi chamada para conter um princípio de tumulto-- o diretor do IML autorizou a liberação dos corpos sem perícia.
Na porta do IML, o carpinteiro Gilson Tigre da Silva, 49, aguardava nesta quarta-feira a liberação do corpo do filho, Givaldo Tigre da Silva, 19, morto em um tiroteio com a polícia. "Desde o início da semana que a gente aguarda a liberação para o enterro e nada", reclamou.
O filho de Geraldo Cabral Neves disse que o pai, de 66 anos, morreu atropelado, no domingo (24), quando saía de um culto da Igreja Universal. O corpo dele foi levado para o IML, onde se encontrava sem exame até o início da tarde de hoje.
MAU CHEIRO E URUBUS
Segundo Luiz Mansur, os legistas até aceitam realizar os exames mais graves e os casos de flagrante durante a greve, mas não querem mais trabalhar no prédio onde funciona o IML. "Eles alegam falta de condições de trabalho", disse o diretor-geral.
A constante falta d'água no prédio agrava o problema de higiene no local, em que é grande o mau cheiro e a quantidade de urubus, atraídos pelo odor dos cadáveres --alguns expostos a céu aberto.
Nos fundos do IML, onde ficam os veículos e o caminhão frigorífico, havia na tarde de hoje pelo menos um corpo na maca, exposto ao sol.
A Folha apurou que o mau cheiro já levou funcionários de funerárias vizinhas ao local a pedir demissão.
Para tentar amenizar o problema, Mansur disse que conseguiu autorização do Hospital Sanatório para usar o necrotério e algumas salas da instituição até que o novo prédio do IML seja construído. No entanto, a transferência não agrada o Sindicato dos Médicos, para quem o Sanatório não atende às suas necessidades.
GREVE ILEGAL
Sobre a decisão da Justiça, que decretou no domingo a ilegalidade da greve, o presidente do sindicato Wellington Galvão disse que até terça-feira não tinha sido notificado oficialmente. Segundo ele, a categoria está disposta a voltar ao trabalho, desde que o governo ofereça as condições necessárias.
O diretor do IML disse que as negociações com os grevistas estão sendo conduzidas pelo governo, que ofereceu aos peritos médicos e odontocriminais uma bolsa de R$ 2.500. Para os auxiliares de necropsia e papiloscopistas, o valor é de R$ 1.090.
Até agora, a categoria não disse se rejeita ou aceita a proposta. "O maior entrave são as condições de trabalho", afirma o presidente do sindicato.
A crise provocada pela greve terminou ofuscando o lançamento do Plano Brasil Mais Seguro, realizado pelo ministro da Justiça José Eduardo Cardozo nesta quarta-feira, em Maceió.
O governador Teotônio Vilela reconheceu que o lançamento do plano é positivo, mas disse que o fato de ter ocorrido em Alagoas é ruim para o Estado. "Principalmente porque Alagoas vem senso considerado o Estado mais violento do Brasil", disse.
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