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Um ano após acidente com bonde no Rio, moradores criticam autoridades
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FABÍOLA ORTIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
A associação de moradores do bairro de Santa Teresa e o movimento "O Bonde que Queremos", no Rio de Janeiro, querem responsabilizar o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, pelo acidente de bonde que matou seis pessoas e feriu mais de 40 em agosto de 2011.
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Nesta próxima segunda-feira (27), data que marca um ano da tragédia, líderes comunitários devem entregar um dossiê ao Ministério Público Estadual pedindo o indiciamento do secretário.
O acidente com o bonde que tombou desgovernado comoveu turistas e moradores do tradicional bairro de Santa Teresa, conhecido por ser um reduto de artistas na cidade.
O veículo perdeu o freio na curva de uma ladeira na rua Joaquim Murtinho, bateu em um muro e derrubou um poste. O bonde ficou totalmente destruído. O funcionário que operava o bonde, o motorneiro Nelson Corrêa da Silva, 57, morreu na hora.
"Para nós, este fim de semana é de luto", disse à Folha Jacques Schwarzstein, um dos articuladores do movimento "O Bonde que Queremos" que realizou, neste domingo, uma manifestação na praia de Ipanema, na zona sul da cidade, para celebrar os 117 anos do bonde e pedir melhorias ao sistema.
"Já reunimos 14 mil assinaturas com ideias de como deve ser o bonde. Queremos que sejamos ouvidos para ajudar no processo de recuperação e conservação do bonde, que é um bem histórico", afirmou Schwarzstein.
Moradores do bairro e usuários do bonde reivindicam maior diálogo com as autoridades para que ajudem na elaboração do projeto de modernização do transporte. Desde o acidente, os bondes deixaram de circular pelo bairro.
INSATISFAÇÃO
Para a presidente da Associação de Amigos e Moradores de Santa Teresa, Elzbieta Mitkiewicz, o sentimento é de "muita insatisfação".
"O bonde é a alma do bairro. Ele acabou por absoluta falta de manutenção e irresponsabilidade. Havia mais de dez anos os veículos não recebiam manutenção, eles foram sucateados. A tragédia era mais do que anunciada, se há três anos o governo tivesse cumprido a determinação judicial de manter os bondes, o acidente não teria acontecido", criticou Mitkiewicz.
"Queremos culpar os responsáveis por gerir os recursos e não os operários que trabalhavam. Vamos levar provas ao Ministério Público mostrando que as autoridades sabiam da situação precária."
Do total de uma frota formada por 14 bondes, apenas 2 operavam nos dias de semana e, aos domingos, um bonde extra era colocado em circulação para os turistas, disse a representante da associação.
"Era uma hora esperando o bonde passar. O bonde era o principal meio de transporte característico do bairro. Era barato, democrático, que transportava turistas, moradores de comunidades e de diversas classes sociais", disse.
Jacques Schwarzstein, por sua vez, lembra ainda que desde que o bonde deixou de circular em Santa Teresa, a alternativa proposta pelas autoridades municipais foi aumentar o número de micro-ônibus nas ruas do bairro.
"Contudo, os ônibus que substituem os bondes são inadequados para as características do bairro, as ruas são estreitas e de paralelepípedo, eles vão em velocidade exagerada e se envolvem constantemente em acidentes", criticou.
Antes, o percurso feito de bonde do Largo da Carioca, no centro, ao Largo dos Guimarães, em Santa Teresa, levava cerca de dez minutos. Hoje, o mesmo trajeto feito de ônibus pode levar até 40 minutos, salientou Schwarzstein.
Neste fim de semana, as vítimas do acidente foram homenageadas com um ato ecumênico na Igreja Anglicana, no sábado (25), e uma missa de um ano da morte do motorneiro foi rezada neste domingo.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da secretaria de Transportes divulgou em nota que "todos os fatos e questionamentos envolvendo o acidente já foram devidamente apurados e analisados pelos órgãos competentes".
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