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Desconhecidos no Brasil, peões brasileiros viram celebridade nos EUA
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FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A LAS VEGAS
MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A PARANAÍBA (MS)
Numa tarde de autógrafos em Las Vegas, os peões Robson Palermo e Valdiron de Oliveira cumprimentam fãs americanos e tiram fotos. Uma brasileira se aproxima, não reconhece os astros e pergunta à reportagem, em inglês, onde era o banheiro. Na sequência, se espanta com um "eita!" de Valdiron. "Mas vocês são brasileiros?"
A cena ilustra a situação de peões que deixam o Brasil para fazer milhões de dólares nos EUA e virar celebridades.
Palermo e Valdiron vivem no Texas há mais de três anos e integram a liga PBR (Professional Bull Riders), que organiza 30 montarias de elite e outros 300 eventos do gênero por ano, no mundo todo.
Desde 1994, o circuito distribuiu mais de US$ 100 milhões em prêmios. Robson, 26, do Acre, e Valdiron, 31, de Goiás, já receberam mais de US$ 1 milhão cada um.
Guilherme Marchi, 28, brasileiro campeão mundial de 2008, que estampa calendários sexy e estrela campanhas publicitárias, já ganhou US$ 3,6 milhões em prêmios.
"Estou tremendo!", brinca uma americana ao ter o chapéu de caubói assinado por Robson. A mulher do peão, Priscila, observa de longe. "Por aqui não tem mulher 'breteira' como no Brasil. Há mais respeito pelo esporte." Patrícia, mulher de Marchi, discorda: "Aqui elas bebem e perdem a noção."
Todos estavam em Las Vegas na semana passada para a final mundial da PBR. Entre os 40 peões, oito eram brasileiros, incluindo os três primeiros. Renato Nunes, de Buritama (SP), venceu a etapa, conquistou o título mundial e US$ 1,25 milhão. É a sexta vez que o Brasil é campeão mundial.
"O que faz os brasileiros terem um pouco mais de garra que os outros é a falta de opção", afirma o brasileiro Adriano Moraes, 40, peão aposentado, tricampeão mundial e acionista da PBR.
BOIADEIROS
A situação contrasta com a dos clássicos peões boiadeiros no Brasil, que originaram os competidores das arenas.
Em Mato Grosso do Sul, Elizandro Dias Costa, 33, vendeu suas mulas, utilizadas para tocar a boiada pelo estradão, porque as viagens a partir de cidades como Inocência e Aparecida do Taboado quase cessaram nos últimos anos.
Peão à moda antiga, monta comitivas para levar gado em longas viagens, de até 800 km, que duram cerca de 30 dias e rendem uns R$ 50 por dia aos peões.
Ele ganha mais por ser o comissário, mas não o suficiente para viver só do estradão. "Quando vejo os caras pularem em touros na TV, saio de perto. Dá uma tristeza danada", diz. Ele parou de montar em 2001 após fraturar três costelas.
Reflexo do crescente número de caminhões e do avanço da cana, os peões de Paranaíba (MS) viram minguar as comitivas. Há alguns anos, havia mais de 50 --hoje não chegam a 20.
Em Aparecida do Taboado, Jesus Antônio Martins, 49, é o único capataz de boiada. Mas diversificou as atividades, porque hoje trabalha no máximo três meses no estradão por ano. "Cheguei a ficar oito meses fora de casa", relembra.
O experiente Moraes diz que o glamour dos peões de touro nos EUA pode enganar. "Se não souberem cuidar do dinheiro, acabam voltando a trabalhar de empregado da mesma forma que quando começaram."
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