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Em 18 anos, 16 morrem em disputa de sindicato do transporte público de SP
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ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
A disputa pelo poder entre sindicalistas do transporte público paulistano já causou a morte de ao menos 16 pessoas nos últimos 18 anos, aponta investigação da polícia e do Ministério Público.
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Os assassinatos mais recentes, contra diretores de base, ocorreram em 25 de outubro e no dia 12 deste mês.
Está em jogo o controle de um caixa dois de meio milhão de reais ao mês que, segundo as investigações, vão parar nas mãos de diretores do Sindmotoristas, representante de motoristas, cobradores e fiscais de ônibus.
O dinheiro seria desviado de contratos de planos de saúde da categoria, da compra de cestas básicas para os funcionários e de convênios com empresas, como farmácias e lojas de sapatos.
Há, ainda, uma parte da investigação que tenta saber se os diretores do Sindmotoristas fazem vista grossa para evitar denúncias sobre condições de trabalho de motoristas, cobradores e fiscais.
Na avaliação da polícia e da Promotoria, a entidade se transformou numa "central de corrupção" travestida de defensora da categoria.
De 1992 até agora, mesmo com mudanças na cúpula da diretoria, o roteiro dos crimes é muito parecido: um sindicalista contrariado começa a divulgar denúncias de desvio de verbas do sindicato ou de cobrança de propinas. Aparece morto meses depois.
Dirigentes chegaram a ir para a cadeia, mas acabaram liberados por falta de provas. A maior parte dos casos ainda está sob apuração da polícia e do Ministério Público.
Em meio à guerra, outras ligações suspeitas aparecem, como no caso do diretor de finanças José Valdevan de Jesus, o Valdevan Noventa.
Vereador de Taboão da Serra, cidade da Grande São Paulo, ele é investigado pela polícia sob suspeita de lavar dinheiro para traficantes. Santos nega as acusações e diz ser alvo de perseguição.
A Folha tenta sem sucesso entrevistar o atual presidente do Sindmotoristas, Isao Hosogi, desde o final de outubro. Jorginho, como é conhecido, prefere falar via o jornal do sindicato, "O Veículo", no qual nega desvios de verba e envolvimento nos crimes.
Em outubro, por exemplo, houve uma "edição extra" do jornal sobre o assassinato de sindicalista Sérgio Augusto Ramos, 48. Ramos havia gravado uma vídeo no qual dizia que Jorginho era "o único interessado" em sua morte.
"Quero transmitir a seus amigos e familiares as condolências da diretoria, e dizer que estamos inteiramente à disposição dos órgãos públicos", disse Jorginho.
CÚPULA
José Carlos da Silva, 50, é a vítima mais recente da guerra por poder no Sindmotoristas, que representa os motoristas e cobradores de ônibus na cidade de São Paulo.
Silva foi morto por dois homens em uma moto, no Jardim Peri, zona norte paulistana, na noite do dia 12. Ele foi baleado cinco vezes.
Uma das suspeitas da polícia é a de que Silva tinha fortes ligações com a atual cúpula do sindicato e brigou por não receber pagamentos de seus aliados na entidade.
Cerca de um mês antes de sua morte, durante uma reunião com trabalhadores do transporte público e de diretores do Sindmotoristas na zona norte, Silva teria sacado uma arma e dito que iria cobrar a verba que não recebia havia ao menos três meses.
Depois da briga, ele teria passado a tentar reunir provas dos desvios de verba no sindicato para entregar à polícia e ao Ministério Público e, com isso, teria despertado a ira dos diretores.
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