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Ribeirão Preto
Análise: Madre Maurina não foi vítima só da ditadura militar
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LUÍS EBLAK
EDITOR DA "FOLHA RIBEIRÃO"
Madre Maurina Borges da Silveira não foi vítima apenas da ditadura militar brasileira (1964-85), que a prendeu e a torturou. Ela sofreu também com a esquerda e com a elite ribeirão-pretana da época.
Por trás dessa história está o macabro boato de que ela foi estuprada na prisão. Dessa suposta violência, teria nascido um filho. Não há provas documentais nem de uma coisa nem de outra --e a freira sempre negou os boatos.
Não à toa, o brasilianista Kenneth Serbin, um dos maiores estudiosos das relações entre a Igreja Católica e o Estado no Brasil, disse a esta Folha na semana passada que o caso da freira deve ser investigado pela Comissão Nacional da Verdade. O ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Gilson Dipp estuda essa possibilidade.
Reprodução | ||
Madre Maurina Borges da Silveira (3ª da dir. para esq., de óculos) desembarca no México após ser exilada |
A religiosa (1928-2011) era apenas a diretora do Lar Santana, um orfanato de Ribeirão Preto, quando foi presa acusada de subversão em outubro de 1969. Sua vida começou a mudar drasticamente e aí surgiram seus três algozes.
O primeiro deles foram os próprios policiais, que suspeitaram que a freira tivesse ligações com as Faln (Forças Armadas de Libertação Nacional), grupo guerrilheiro de Ribeirão Preto.
Madre Maurina não era guerrilheira --no máximo, simpatizante de alguns dos ideais da esquerda.
Apesar disso, o caso ganhou tamanha repercussão que até o delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979) --famoso agente da ditadura-- se deslocou para Ribeirão Preto para interrogá-la.
Acabou indiciada por subversão e levada até o presídio Tiradentes. Só deixou a cadeia após ser incluída na lista de presos políticos trocados pelo cônsul japonês Nobuo Okuchi, sequestrado pela esquerda em 1970.
CAUSA REVOLUCIONÁRIA
Foi neste momento que a religiosa se tornou vítima da própria esquerda, embora o enunciado talvez seja forte demais para este caso.
Madre Maurina não queria estar na lista nem deixar o país. Queria, sim, provar sua "inocência" e que não tinha relações com a esquerda.
Naqueles tempos de ditadura militar, fazer parte dessas listas significava, por tabela, aderir à causa dos opositores.
A esquerda fez algumas ações como essa: sequestrava gente importante para trocar por presos políticos.
A mais famosa das ações desse tipo foi a do embaixador norte-americano Charles Elbrick (1908-1983), cuja história de sequestro posteriormente foi transformada em livro (de Fernando Gabeira) e até em filme (de Bruno Barreto) --ambos chamados "O que é isso, companheiro?".
Acervo UH - 8.set.1969/Folhapress | ||
O embaixador Charles Elbrick concede entrevista coletiva na Embaixada dos EUA, no Rio de Janeiro, em 1969 |
Assim, a esquerda soube usar a imagem de madre Maurina --religiosa da Igreja Católica e pivô da inédita excomunhão de dois delegados acusados de tortura em Ribeirão Preto-- como propaganda revolucionária contra o próprio governo.
Mesmo não sendo esquerdista, a madre serviu aos opositores da ditadura. E eles sabiam das duas coisas: que ela não compactuava com a "causa" e que sua imagem era muito útil à propaganda revolucionária.
3º ALGOZ
Nesse mesmo episódio da prisão da freira, surge o terceiro carrasco na história da madre: a elite ribeirão-pretana --esta narrada pela própria religiosa.
Perguntada por este repórter, em 1998, por que existiram os boatos de estupro e do suposto filho, ela contou que, quando dirigia o tal orfanato, devolveu 15 crianças para "mães solteiras ricas" que deixaram os filhos na porta do Lar Santana.
Madre Maurina disse que explicou a essas famílias que o orfanato era "lugar para os pobres" e não para mulheres da alta sociedade querendo abafar um escândalo social.
Na versão da freira, os boatos sobre o estupro e o suposto filho foram uma vingança dos "ricos" de Ribeirão contra ela, que pagou a vida toda por isso.
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