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Ribeirão Preto
Chacina expõe abandono de moradores em bairro de São Carlos (SP)
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JOÃO ALBERTO PEDRINI
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS
Abandono e esquecimento. São essas as palavras mais ouvidas de moradores e líderes comunitários do conjunto habitacional do bairro Vila Izabel, em São Carlos (232 km de São Paulo), ao resumir como eles se sentem em relação ao Estado --principalmente prefeitura e governo paulista.
Na madrugada do dia 31 de outubro, perto de duas quadras esportivas abandonadas do condomínio, sete pessoas --todas usuários de crack, segundo a polícia-- foram brutalmente assassinadas.
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O crime é a maior chacina da história da região e a maior deste ano no Estado.
A Folha voltou ao local do ocorrido uma semana depois e ouviu moradores, que clamam por ações que contribuam para o desenvolvimento econômico e social.
"Estamos esquecidos e sem direitos", diz Isaque Josias Sampaio, em carta enviada à reportagem pela associação de moradores. "Estamos assustados com a chacina. Alguns moradores pensam em se mudar do bairro. O local [das mortes] se tornou uma cracolândia. Muitos só saem de casa após as 22h, em caso de necessidade."
Eles denunciam a ausência de políticas públicas que viabilizem atividades ligadas a projetos nas áreas de educação, esporte, cultura e lazer destinadas a jovens, crianças e adultos.
Para os moradores, a ausência de Estado na região do conjunto habitacional fez com que um terreno próximo ao condomínio, construído pela CDHU, virasse ponto de usuários de drogas.
Mauricio Duch - 31.out.2012 | ||
Caixões de cinco das sete vítimas da chacina registrada em São Carlos, no final de outubro |
E AS NOSSAS CRIANÇAS?
Uma das síndicas do conjunto habitacional, Eva Natália Assunção da Silva, 64, afirma que a região até tem luz e saneamento, mas o problema é outro: é o que ela chama de "abandono cultural e intelectual".
"Falta cultura, amparo. O que me tira o sono são as crianças daqui que não têm uma oportunidade. Elas nem sabem o que é uma peça de teatro. Não é incentivada a prática de esportes. [Faltam] Oportunidades aos jovens."
Depois da chacina, o dia a dia mudou. A dona de casa Maria Nazaré Araújo, 40, que tem dois filhos, diz que tem medo de bala perdida. "Agora, todos temos mais receio."
Procurada, a Prefeitura de São Carlos diz que oferece aos moradores um série de projetos culturais e esportivos. O governo paulista não falou.
Mais comuns na Grande São Paulo, chacinas são tipos de crimes raros na região. A maior delas registrada anteriormente no nordeste paulista ocorreu em 2002, quando cinco pessoas de uma mesma família foram mortas.
INVESTIGAÇÃO
O delegado da DIG (Delegacia de Investigações-Gerais) de São Carlos, Edmundo Ferreira Gomes, diz que cinco testemunhas foram ouvidas.
Ele relata que a apuração para saber quem foram os autores da chacina é difícil porque o local é pouco iluminado, o que prejudica a identificação dos atiradores.
Sabe-se que eram ao menos dois, segundo depoimentos. "Eles [autores dos homicídios] usavam gorro e capuz. Chegaram num Santana [Volkswagen] branco, mataram os sete e fugiram. Trabalhamos agora para identificar o veículo", diz.
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