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Ribeirão Preto

11/11/2012 - 05h18

Chacina expõe abandono de moradores em bairro de São Carlos (SP)

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JOÃO ALBERTO PEDRINI
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS

Abandono e esquecimento. São essas as palavras mais ouvidas de moradores e líderes comunitários do conjunto habitacional do bairro Vila Izabel, em São Carlos (232 km de São Paulo), ao resumir como eles se sentem em relação ao Estado --principalmente prefeitura e governo paulista.

Na madrugada do dia 31 de outubro, perto de duas quadras esportivas abandonadas do condomínio, sete pessoas --todas usuários de crack, segundo a polícia-- foram brutalmente assassinadas.

O crime é a maior chacina da história da região e a maior deste ano no Estado.

A Folha voltou ao local do ocorrido uma semana depois e ouviu moradores, que clamam por ações que contribuam para o desenvolvimento econômico e social.

"Estamos esquecidos e sem direitos", diz Isaque Josias Sampaio, em carta enviada à reportagem pela associação de moradores. "Estamos assustados com a chacina. Alguns moradores pensam em se mudar do bairro. O local [das mortes] se tornou uma cracolândia. Muitos só saem de casa após as 22h, em caso de necessidade."

Eles denunciam a ausência de políticas públicas que viabilizem atividades ligadas a projetos nas áreas de educação, esporte, cultura e lazer destinadas a jovens, crianças e adultos.

Para os moradores, a ausência de Estado na região do conjunto habitacional fez com que um terreno próximo ao condomínio, construído pela CDHU, virasse ponto de usuários de drogas.

Mauricio Duch - 31.out.2012
Caixões de cinco das sete vítimas da chacina registrada em São Carlos, no final de outubro
Caixões de cinco das sete vítimas da chacina registrada em São Carlos, no final de outubro

E AS NOSSAS CRIANÇAS?

Uma das síndicas do conjunto habitacional, Eva Natália Assunção da Silva, 64, afirma que a região até tem luz e saneamento, mas o problema é outro: é o que ela chama de "abandono cultural e intelectual".

"Falta cultura, amparo. O que me tira o sono são as crianças daqui que não têm uma oportunidade. Elas nem sabem o que é uma peça de teatro. Não é incentivada a prática de esportes. [Faltam] Oportunidades aos jovens."

Depois da chacina, o dia a dia mudou. A dona de casa Maria Nazaré Araújo, 40, que tem dois filhos, diz que tem medo de bala perdida. "Agora, todos temos mais receio."

Procurada, a Prefeitura de São Carlos diz que oferece aos moradores um série de projetos culturais e esportivos. O governo paulista não falou.

Mais comuns na Grande São Paulo, chacinas são tipos de crimes raros na região. A maior delas registrada anteriormente no nordeste paulista ocorreu em 2002, quando cinco pessoas de uma mesma família foram mortas.

INVESTIGAÇÃO

O delegado da DIG (Delegacia de Investigações-Gerais) de São Carlos, Edmundo Ferreira Gomes, diz que cinco testemunhas foram ouvidas.

Ele relata que a apuração para saber quem foram os autores da chacina é difícil porque o local é pouco iluminado, o que prejudica a identificação dos atiradores.

Sabe-se que eram ao menos dois, segundo depoimentos. "Eles [autores dos homicídios] usavam gorro e capuz. Chegaram num Santana [Volkswagen] branco, mataram os sete e fugiram. Trabalhamos agora para identificar o veículo", diz.

 

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