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Ribeirão Preto

30/12/2012 - 07h00

'Fiquei oito anos sem férias, mas tirei Franca do buraco', diz Sidnei

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JULIANA COISSI
ENVIADA ESPECIAL A FRANCA

Ao lembrar de seus oito anos de governo, o prefeito de Franca (400 km de São Paulo), Sidnei Franco da Rocha (PSDB), confessou que chegou a duvidar, ao assumir em 2005, se conseguiria reduzir a então dívida da cidade, de R$ 180 milhões --hoje, ela é de R$ 61 milhões.

"Fiquei oito anos sem férias, mas consegui tirar Franca do buraco", afirma Sidnei à Folha, resumindo seus dois mandatos, que terminam nesta segunda-feira (31).

Edson Silva/Folhapress
O prefeito Sidnei Franco da Rocha, que encerra oito anos de governo no dia 31, concede entrevista em Franca
O prefeito Sidnei Franco da Rocha, que encerra oito anos de governo no dia 31, concede entrevista em Franca

No próximo dia 1º, assume o cargo Alexandre Ferreira (PSDB), que também foi secretário da Saúde e de Desenvolvimento de seu antecessor.

Questionado sobre seu futuro --é citado como candidato a deputado em 2014 --, ele evita responder e faz uma brincadeira: "É como diz o Zeca Pagodinho: 'Deixa a vida me levar'".

Leia a íntegra da entrevista à Folha.

*

O sr. frisou a questão de creches construídas. Ainda assim temos uma fila de 2.300 crianças à espera. Por que em oito anos o sr. não zerou essa fila?
Sidnei Franco da Rocha - Porque o problema não era só creche. Você tinha problemas em sala de aula, de creche, de estrutura do ensino que precisava ser melhorada, uma série de outros problemas que precisavam ser socorridos. Acho que fazer 30 creches é um recorde, inclusive de toda a região, e se existe ainda alguma defasagem isso é histórico. Não dá para um prefeito resolver problemas que têm 20, 50 anos. Fizemos o que era possível ser feito.

Em oito anos, se fosse pontuar duas ações, quais seriam as maiores realizações?
Olha, tem uma coisa física e outra não física. O físico, além do que falamos de creche, é que fizemos 400 km de recapeamento. Você imagine pegar a estrada daqui a São Paulo? Foi o recapeamento que fizemos. Porque a cidade estava detonada, acabada. Foi uma grande conquista. E do ponto de vista subjetivo, houve um trabalho que nós desenvolvemos que deu resultados importantíssimos que foi o trabalho psicológico. Franca, oito anos atrás, ela dizia: "Nós vamos perder, não vai dar certo". Tudo o que você falava, diziam: ah, não vai dar certo. Aqui em Franca não vai ser assim. E a gente conseguiu reverter isso. Hoje a cidade é muito mais otimista.

Como assim?
É um trabalho psicológico, do sentimento da cidade, da mentalidade da cidade. Era uma mentalidade perdedora. Hoje não, é uma mentalidade vencedora. "Sim, vai dar certo, porque está ótimo, está bom". Isso muda o astral. Você muda o comportamento de uma sociedade. E a gente conseguiu, acho que o mais difícil, inclusive é isso, trabalhar essa mentalidade.

E passados oito anos, o que fica de frustração de não ter feito? Ou o que faltou?
Não, saio muito feliz. Não faltou nada. Quando você larga toda a sua atividade particular como eu fiz e fui me dedicar exclusivamente à prefeitura, você espera fazer muita coisa que possa melhorar a vida das pessoas. Qual é meu pagamento, é o salário? Não, porque o salário de prefeito em Franca é muito ruim. O meu pagamento é o reconhecimento da minha dedicação pela cidade. Estou realizado.

Quando ouvimos o sr. para um balanço de primeiro ano de governo, perguntamos por que Franca tinha indicadores econômicos baixos, comparado a outras regiões. Esse problema continua. Por quê?
Em relação a outras regiões é exagero seu, talvez em relação a algumas cidades, como Sertãozinho, por exemplo. Aqui tem uma característica própria. É difícil comparar atividades diferentes. Aqui é uma cidade que você não tem desemprego, que falta mão de obra sempre. Muito difícil quando sobra gente. Aqui é uma cidade industrial, não dá para comparar Franca com Ribeirão Preto, por exemplo. Ribeirão é uma cidade estudantil e comercial. Franca é uma cidade operária. Mas por outro lado aqui não tem favelas, como Ribeirão, como em cidades até menores, porque tem uma característica própria. Não é uma cidade rica, mas tem uma renda familiar razoável e que mantém um nível de vida razoável. Pobre, mas sem miséria. É uma característica. Nunca será diferente enquanto for uma cidade operária, industrial.

Da parte do seu governo faltou algo para mudar esse cenário?
Não, nem pode deixar de ser operária. Pelo contrário: nós incentivamos. Fizemos [o programa] Empreendedorismo ao Profissionalismo, que foi um curso para os novos empresários, que temos muito. Apareceram 2.600 microempresários para fazer curso. É uma cidade que trabalha nessa linha, e incentivamos muito isso. Também demos palestras a grandes empresários. E se trabalhou também na redução de impostos do sapato, que o governador Geraldo Alckmin baixou o imposto e isso ajudou também. É esse o trabalho de uma cidade operária que tem um produto como o calçado.

O sr. assumiu uma prefeitura endividada e reduziu o deficit. Por outro lado, o Orçamento cresceu no período. O sr. ainda assim deixa R$ 61 milhões para seu sucessor. Isso não engessa o começo de governo dele?
Não, esses [débitos] são de Previdência e Fundo de Garantia. Os fornecedores, pagamos todos. Agora está parcelado em 240 meses e o nosso FPM [Fundo de Participação dos Municípios] fica lá para pagar a dívida, eu não usei o FPM. Essa estrutura que o novo prefeito vai pegar. Se eu administrei e sobrou dinheiro sem o FPM, o próximo terá de fazer isso também.

Falando sobre saúde, um dos problemas destacados foi o acúmulo de cirurgias eletivas. A prefeitura não pôde ajudar a sanar isso?
Nós tentamos, até nos hospitais particulares. Porque a Santa Casa não tem estrutura e isso já está comprovado, ela vai fazendo aos pouquinhos. A gente queria resolver isso de uma vez e a gente contatou os hospitais particulares, mas ficou um problema: a cirurgia eletiva é mais simples, mas e se houver complicação e tiver de ficar internado um mês, dois meses? Quem pagaria? Não poderia fazer um negócio que você não sabe quanto custaria. Sempre esbarrou nessa falta de estrutura da Santa Casa e na dificuldade de viabilizar isso com os particulares.

Sobre segurança, Franca e região tiveram um aumento de homicídios. Faltou mais atuação da polícia de SP, comandada pelo seu partido?
Esse é um problema do governo do Estado. A prefeitura não tem como combater o delito, a droga. Nós sabemos que, no aumento da violência, a base é a droga. A polícia está funcionando, só que aumentou de mais a criminalidade, principalmente com o crack. A polícia está fazendo o que ela consegue fazer. Mas precisa fechar as fronteiras, porque do jeito que está tudo aberto, não dá conta.

Nas eleições, houve três nomes cogitados entre seus secretários: além do Alexandre, a Valéria Marson e o Sebastião Ananias. Por que o sr. definiu pelo Alexandre?
Não houve definição nenhuma. Nós fizemos as prévias, ato mais democrático que existe, eu indiquei os três, eles disputaram e o Alexandre ganhou.

Mas o sr. deixou apoio claro ao Alexandre...
Não. Depois. Só depois que ele ganhou as prévias. Antes não apoiei ninguém. Se fosse a Valéria ou o Ananias, teriam meu apoio normalmente.

E como o sr. vê o racha do Sebastião Ananias, que o acompanha há décadas e depois das prévias deixou o governo?
Eu não explico. Ele que tem que explicar. Ele quis ir embora, foi, e a vida continuou.

Não seria ele sua inclinação natural?
Ele também, eu indiquei os três, poderiam ser qualquer um dos três.

Nesta campanha eleitoral, qual o momento mais difícil?
Nenhum. Fizemos um planejamento da campanha e seguiu à risca. Não tivemos de corrigir o rumo das coisas.

Mas a vereadora Graciela Ambrósio estava à frente no início da campanha...
Mas a gente já sabia. Quando lançamos o Alexandre sabíamos que ele tinha 2% das intenções de voto, até menos. Eu tinha certeza que íamos ganhar a eleição.

O sr. descarta no futuro ser prefeito novamente?
Acho difícil. Três vezes é um número bastante razoável.

Em 2014, o sr. sairá candidato a deputado?
Não tenho definição nenhuma ainda. Fiquei oito anos sem férias. Agora eu vou parar, descansar um período, não sei quanto tempo e depois vou ver. Política não é fundamental na minha vida. Fundamental para mim foi tirar Franca do buraco. Isso foi algo que eu tinha abandonado. Fiquei 18 anos fora da política. Aí quando a cidade estava no buraco mesmo, eu aceitei voltar. E me propus a fazer esse trabalho. Mas se precisar abandonar a política, abandono sem nenhum trauma.

 

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