1 em cada 12 alunos da rede pública de São Paulo não recebeu kit escolar
Passado mais de um mês do início do ano letivo, 1 em cada 12 alunos das escolas do Estado e da prefeitura paulistana ainda não recebeu os kits de material escolar.
O problema atinge cerca de 390 mil estudantes, 7,8% do total de matrículas nas duas redes somadas –que fazem compras de forma separada.
A situação é pior no sistema gerido pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), em que 8,5% dos estudantes estão sem o material. Segundo a Apeoesp (sindicato dos professores), é a primeira vez que há atraso na entrega, que começou em 2006.
A Folha obteve os dados em levantamento no site da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), da Secretaria da Educação.
A pasta afirmou que houve problema na licitação para a compra dos kits –que incluem cadernos e conjuntos de lápis, canetas e borrachas.
Nas escolas mantidas pelo prefeito Fernando Haddad (PT), 5% dos alunos estão sem o material, segundo a Secretaria de Educação. A gestão diz que a situação indica melhora, pois o percentual já foi maior em outros anos.
Joel Silva/Folhapress | ||
Estudante em Ribeirão Preto (SP), Luane Caroline de Jesus, 10, exibe o material escolar já gasto |
IMPROVISO
Entre os alunos que não receberam os materiais estão os dois filhos da catadora de recicláveis Alessandra da Silva, 36. As crianças têm sete e oito anos de idade.
Elas levam para a escola estadual Paulo Gomes Romeo, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), um caderno de desenho, um lápis e uma caixa de giz, tudo improvisado pela mãe.
Além de Ribeirão Preto, as regiões onde há mais afetados pelo atraso na rede estadual são a capital, Sorocaba, Taboão da Serra e Jundiaí.
Os alunos mais prejudicados estão entre o 6º e o 9º ano. Até a última sexta-feira (6), 236.253 kits não haviam sido entregues para esse ciclo.
No caso de algumas escolas, o site informa que a pasta encaminhou os kits, mas os respectivos diretores, que têm de registrar o recebimento no sistema, não o fizeram.
Há também municípios para onde o governo estadual nem encaminhou o material.
É o caso de escolas de cinco cidades da região de Ibitinga, onde faltam 3.406 kits, e de seis cidades da região de Sertãozinho, que ainda não recebeu 5.460 conjuntos.
"O problema é que ninguém consegue dizer quando esses materiais vão chegar", disse a agente de saúde Elaine Cristina Silveira, 35.
Moradora de Bebedouro (a 381 km da capital) e com um salário de R$ 850, ela disse que contou com a ajuda de parentes e amigos para comprar material para os dois filhos, de oito e 15 anos.
Ambos estudam na escola Orlando França de Carvalho e começaram o ano letivo usando folhas de sulfite no lugar de cadernos.
Já em Franca (a 400 km da capital), a família da doceira Eliane Aparecida da Silva, 30, teve de cortar a comida para comprar material.
"Há um mês, estamos comendo só arroz e feijão. Ficou apertado, meu marido estava desempregado", disse ela, que tem filhos na escola Maria do Carmo Silva Ferreira.
Eliane conta que gastou com materiais escolares cerca de R$ 200 previstos para despesas domésticas.
Há casos de professores que tiram o material do próprio bolso. "Muita gente pede lápis e caderno para a professora, daí ela acaba dando", conta Luane Caroline de Jesus, 10, de Ribeirão.
Para Sérgio Kodato, coordenador do Observatório da Violência e Práticas Exemplares da USP Ribeirão, a falta do material pode provocar sentimento de revolta entre alunos e pais, além de comprometer o aprendizado.
"Indica descaso e abandono. O problema se reflete no relacionamento com os professores, que estão na linha de frente e não têm culpa."
Colaborou FÁBIO TAKAHASHI
Editoria de arte/Folhapress | ||
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