Em ato contra plano escolar, grupo fecha ruas, e motorista agride aluna
Leandro Machado/Folhapress | ||
Alunos fecham cruzamento da Faria Lima com a Rebouças em ato contra reorganização de escolas |
Cerca de 50 estudantes de colégios estaduais da rede pública paulista fecharam ruas da zona oeste de São Paulo na tarde desta segunda-feira (7), em mais um ato contra a reorganização dos colégios estaduais de São Paulo. Durante a manifestação, um motorista agrediu uma estudante na avenida Faria Lima.
O bloqueio começou às 17h05, quando os alunos fecharam o cruzamento da avenida Faria Lima com a Rebouças. Durante o ato, houve discussão entre estudantes e motoristas. Uma jovem de 16 anos, aluna do segundo ano do colégio Fernão Dias Paes, foi agredida com um soco por um motorista, que saiu em seguida. A PM observou a discussão à distância.
Por volta das 18h20, os manifestantes se deslocaram para a rua Teodoro Sampaio, liberando a avenida Faria Lima. Os alunos bloquearam o cruzamento com a avenida Pedroso de Morais, próximo ao colégio Fernão Dias Paes. Às 19h30, os estudantes seguiram para a rua Cardeal Arcoverde e caminharam em direção ao largo de Pinheiros –nesse momento, já eram apenas 30 estudantes no protesto.
Os alunos obtiveram uma vitória na última sexta (4) quando o governador Geraldo Alckmin (PSDB), sob uma série de protestos e com seu mais baixo índice de popularidade, decidiu suspender a implementação desse plano de reorganização, que unificaria ciclos de ensino e fecharia 92 escolas do Estado.
Em pronunciamento na sexta, Alckmin afirmou que recuou para "aprofundar o diálogo" em 2016. "Nós entendemos que devemos aprofundar o diálogo, vamos dialogar escola por escola", disse.
Os estudantes, porém, não querem apenas uma suspensão e protestam por uma garantia de que a reorganização não vai acontecer em 2017, por exemplo. Eles também pedem uma punição aos policiais militares que agrediram estudantes durante os protestos que ocorreram na semana passada –policiais usaram a força para liberar importantes avenidas da cidade totalmente bloqueadas por estudantes e outros manifestantes, como integrantes de movimentos sociais.
Nesta segunda, devido ao congestionamento na região, dezenas de pessoas preferiram descer de ônibus e continuar o trajeto a pé ou usar de meio de transporte, como o metrô. O Fernão Dias é um dos 195 colégios ocupados por alunos em protesto contra a reorganização estrutural proposta pelo governo de São Paulo.
"Eu acho que eles [estudantes] bagunçam demais a vida do paulistano. É legal o protesto. Eles fizeram por merecer o que conseguiram, mas chega. A vida continua", disse a publicitária Mariana Galvão, 35.
"Mas eu entendo que depende da posição que você está. Se eu fosse estudante, talvez estivesse lá com eles. Como estou aqui no meu carro, quero passar", concluiu a publicitária.
Para protestar contra a reorganização, estudantes ocuparam as escolas há quase um mês –a rede pública estadual tem mais de 5.000 unidades. O cansaço, contudo, chegou em algumas escolas ocupadas, mas os estudantes afirmam que devem manter a ocupação pelo menos até a próxima quarta-feira (9). "Vai depender das novas assembleias", disse a estudante Gabriela Callis, 17, que faz parte do comitê de mídia do colégio Professor Fidelino de Figueiredo, em Santa Cecília, na região central de São Paulo.
RODOVIA FECHADA
Mais cedo, um grupo de estudantes da rede estadual fechou a rodovia Raposo Tavares durante quase cinco horas no sentido capital. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou que os manifestantes deixaram o local por volta das 12h30.
Às 10h30, eles chegaram a interditar todas as faixas da rodovia na altura da avenida Benjamim Mansur, a poucos metros do parque Jardim Previdência, na zona oeste da cidade, causam intenso congestionamento. A Polícia Militar diz que acompanhou todo a manifestação.
O secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, pediu demissão após o recuo anunciado pelo governador, decisão tomada em uma reunião da qual ele não tinha participado. Ainda na sexta, em assembleia realizada por representantes de diferentes ocupações, estudantes decidiram manter o movimento, pedindo garantias de que o recuo seria para valer. No sábado (5), o governo do Estado publicou no "Diário Oficial" decreto revogando a reorganização escolar.
ALCKMIN
O governador Geraldo Alckmin disse nesta segunda que a ação da Polícia Militar nas escolas e manifestações de estudantes foi cautelosa. "Nós fomos absolutamente cautelosos. Nenhuma escola foi reintegrada com a polícia. Nenhuma. Aí ocupa a avenida Dr. Arnaldo. Há mil pessoas por dia que precisam tratar câncer no Instituto do Câncer, tem o Hospital das Clínicas, hospital Emílio Ribas. Aí se você não age, você pede: 'pessoal, olha, vamos dar mais meia hora pra vocês, se manifestem, mas daqui a meia hora, precisa desimpedir. As pessoas estão paradas no tráfego, precisam ir para o hospital, trabalhar, se locomover. Aí dá um tempo e não sai. Não é possível prejudicar o conjunto da população", afirmou.
Alckmin falou ainda que o objetivo da reorganização é aumentar o número de escolas de ciclo único. "Nós já temos 1.500 escolas de ciclo único, a nossa proposta é aumentar 750 e ficar com 2.250. Tentamos explicar, explicar, explicar, tanto que foi razoável e entendido que, nas matrículas feitas, os alunos podiam pedir transferência e 96% não pediu. Já estavam bem encaminhados", disse.
Para o governador, os estudantes já deveriam ter deixado as unidades ocupadas após o adiamento da medida. "É melhor discutir e dialogar mais, não tem problema, nós vamos adiar, vamos fazer esse diálogo, especialmente com os alunos os pais dos alunos e o corpo docente. Não há razão nenhuma hoje para ter escola invadida. Se a causa era essa, agora, devemos retomar as aulas para poder o mais rápido possível para concluir o ano letivo."
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