Suspensão do bônus decepciona professores da rede estadual de SP
A decisão do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de suspender o pagamento do bônus deste ano aos professores e servidores da educação levou frustração às escolas da rede. Pago anualmente sempre em março, muitos funcionários já tinham planos para o dinheiro extra.
Professor da rede estadual há nove anos, Paulo Lucchini, 40, conta que a escola conseguiu ultrapassar em todas as etapas do ensino as metas do último Idesp - índice de qualidade do Estado adotado como critério para pagamento. "Fazia dois anos que a escola não batia a meta no fundamental. Agora que conseguimos, o governo cancela. Foi um balde de água fria", diz.
Contando com o bônus, Lucchini havia pedido dinheiro emprestado a um conhecido para pagar o IPVA do carro. "Já estou pesquisando um empréstimo no banco", diz ele, que da aulas em Diadema, grande São Paulo. "A gente só tem levado pedradas ultimamente".
Marlene Bergamo/Folhapress | ||
Em junho de 2015, professores da rede estadual saíram de uma greve de 89 dias sem reajuste |
O motivo da suspensão do pagamento é falta de recursos. O governo promete reverter o dinheiro que seria pago com o bônus em reajuste salarial neste ano. Aos sindicatos da categoria, indicou que o aumento seria de 2,5% - porcentual não confirmado pela Secretaria de Estado da Educação. A categoria está sem reajuste desde 2014 e fez, no ano passado, uma greve que durou 89 dias.
A professora Juliana Roncon, 36, conta que a escola em que dá aula, em Ribeirão Pires, foi tomada por decepção com a notícia. "Embora muitos, como eu, sejamos contrários à política de bônus, todo mundo estava contando com esse dinheiro, que costuma cobrir as contas do começo do ano", diz.
No ano passado, Juliana recebeu R$ 2.500 de bonificação. "Todo mundo havia ficado muito feliz porque tínhamos conseguido superar a meta no ensino fundamental e médio, o que não aconteceu no ano anterior. Agora o clima está horrível."
A situação é mais desanimadora para quem é agente escolar, para quem o bônus faz mais diferença uma vez que o salário-base é menor. "A notícia foi péssima. Estou tentando arrumar minha casa que tem vários problemas a serem resolvidos e com a suspensão da bonificação vou ter que adiar", contou a agente escolar de uma escola da região central e que pediu para não ser identificada.
Há nove anos na rede, ela tem um salário-base de R$ 1.000 e recebeu no ano passado um bônus de R$ 1.400. "Todos os funcionários sentiram essa notícia porque nos dedicamos de corpo e alma para nossa escola", diz.
No ano passado, 232 mil servidores da educação receberam um total de R$ 1 bilhão em bônus. Há casos em que os profissionais recebem até três salários.
A adoção de bonificação por desempenho é parte central da política educacional do Estado de São Paulo. Criada em 2008, é a primeira vez que o valor não é pago.
Em geral, os sindicatos dos professores são historicamente contrários à bonificação, defendendo que os pagamentos sejam incorporados ao salário. O tema ainda provoca polêmica entre educadores com relação à própria natureza do bônus.
Segundo o professor de história Belmiro Amaral Neto, 33, a bonificação acaba dividindo os professores da escola em torno dessa questão. "A pior coisa é a energia que a escola deposita na avaliação externa, atropelando outros processos pedagógicos", diz ele.
A Apeoesp, principal sindicato da categoria, já se posicionou contrário ao aceno de um reajuste de 2,5%. A entidade tem assembleia marcada para o dia 8 na praça Roosevelt, na região central de São Paulo.
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