Sindicato orienta docentes a continuar a greve e não voltar às aulas no Rio
O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) orientou seus filiados a não aderirem à decisão da Justiça, que determinou o retorno das aulas em todos os colégios estaduais ocupados por estudantes.
Um dos diretores do Sepe, Marcus Menezes, disse que a determinação é de continuar a greve e não voltar às aulas. Ele disse que o Estado atendeu à classe em algumas pautas, porém, ainda não as oficializou. "Nós temos algumas pautas que foram, sim, atendidas pelo governo, porém, nada oficializado ou assinado. E a gente sabe como as coisas são. Não podemos aceitar isso sem ainda estar concretizado. Só prometer não adianta."
De acordo a juíza Gloria Heloiza Lima da Silva, titular da 2ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da capital, as aulas deveriam ser retomadas nos cerca de 70 colégios a partir desta quinta-feira (2). Na decisão, a magistrada ressalta que a determinação tem como objetivo impedir que os estudantes percam o ano letivo devido ao número de dias sem aulas.
Ricardo Borges - 13.abr.16/Folhapress | ||
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Aluna do colégio estadual Heitor Lira, no Rio, olha pelo portão de entrada da escola ocupada |
Os professores, que completam nesta quinta três meses de greve, participam de uma assembleia no Clube Hebraica, em Laranjeiras, zona sul do Rio, para definir os rumos do movimento. À tarde, a categoria fará um protesto em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, cobrando negociações diretas com o governador em exercício Francisco Dornelles (PP).
"Vamos discutir tudo que vem acontecendo nessas semanas, inclusive a ocupação da Seeduc [Secretaria de Estado de Educação]. Precisamos buscar uma solução para tudo isso. O Estado persiste na alegação de que não tem dinheiro, mas, e as Olimpíadas? Aí eles têm? Temos duas pautas não atendidas, que são o reajuste inflacionário e o calendário de pagamento. São duas questões importantíssimas para a nossa classe, mas o governador alega isso [falta de dinheiro]. Fica complicado acreditar", disse Menezes.
A juíza, porém, afirma que os estudantes terão o direito de seguir ocupando os colégios, desde que não impeçam a realização das aulas normais nem o trabalho dos funcionários dos colégios. Foi determinado ainda que a Secretaria de Educação cumpra as promessas feitas ao estudantes, sobre gestão democrática das escolas, melhorias na infraestrutura, transporte escolar, avaliação e currículo mínimo, alimentação e serviços.
"Determino que sejam implementadas a reserva orçamentária e o repasse dos recursos já afiançados para reparos em 68 escolas, nos termos já pactuados nos documentos apresentados em audiência, além da imediata reserva de espaço físico em cada unidade para funcionamento do grêmio estudantil e a difusão de ordem aos diretores de unidades para que assegurem o pleno e irrestrito funcionamento do grêmio", afirmou.
ESCOLAS SEM AULA
O Colégio Estadual Souza Aguiar, no centro do Rio, uma das várias escolas ocupadas por estudantes no Estado, também não aderiu à tomada de decisão pela volta das aulas. Segundo a aluna da unidade Beatriz Freire, que cursa o segundo ano do ensino médio, a ocupação faz com que os alunos percam tempo e futuras oportunidades.
"A gente está perdendo muito tempo com isso. Eles poderiam ter escolhido uma outra forma de protestar, fosse na Alerj [Assembleia Legislativa] ou na Seeduc, mas não no colégio, nos impedindo de ter aula. Aí chego aqui, pensando que vou conseguir voltar a estudar e me deparo com a escola ainda fechada. É triste. Estou tentando terminar o 2° ano e, em 2017, tem vestibular. Isso preocupa muito. Não acredito que, nem com as aulas voltando, a gente consiga repor todo o conteúdo. Talvez com cursos fora da sala de aula. Só na escola não vai dar", afirmou.
O aposentado e pai de aluno do Colégio Souza Aguiar, Antônio Francisco Brandão, reclamou muito ter encontrado a unidade ainda fechada e com uma barreira montada pelos ocupantes, impedindo a entrada de alunos e professores. "É decepcionante. Eu estava certo que eles acatariam e deixariam nossos filhos entrarem, mas chegando aqui, a gente dá de cara com isso. Tudo fechado e ainda com uma barreira para impedir a entrada. É muito ruim essa situação".
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