Hipóteses sobre poder das vitaminas permanecem sem esclarecimento
O que leva muita gente a buscar suplementação, não raro por conta própria, já que os polivitamínicos podem ser comprados sem receita, é a crença de que quanto mais vitaminas, maior a proteção contra doenças e envelhecimento. Mas muitas hipóteses sobre o poder das vitaminas ainda permanecem nebulosas. "Até a idéia de que a vitamina C protege contra gripe não foi comprovada cientificamente", diz o endocrinologista Ricardo Hauy Marum, presidente do Instituto Brasileiro de Educação Nutricional.
Nesse terreno nebuloso, muitas pesquisas vêm mais para confundir do que para esclarecer. "Surge um estudo dizendo que o betacaroteno [precursor da vitamina A] predispõe ao câncer de pulmão e outro dizendo exatamente o contrário. Não há consenso", esclarece Marum. A primeira pergunta é: se tomarmos quantidades maiores de vitaminas estaremos mais protegidos? "Ninguém sabe", afirma o endocrinologista.
A segunda questão é saber se corremos riscos importantes, como o de desenvolver algum câncer. "Esse tipo de estudo precisa ser visto com um olhar muito crítico. Não conhecemos todas as variáveis envolvidas na pesquisa nem todos os componentes dos polivitamínicos utilizados", pondera Paulo Olzon, chefe da disciplina de clínica médica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O que é claro, para Olzon, é que polivitamínicos não são a melhor opção para a suplementação prolongada. "Esses compostos misturam de tudo, e há alguns elementos que não deveriam ser usados." Além do risco de intoxicação ou de doença, o excesso de certas substâncias acaba gerando o efeito oposto ao desejado. "O ferro, por exemplo, é um mineral muito importante, mas, ingerido além do limite provoca duas reações orgânicas geradoras de um radical livre chamado hidroxina, que é um dos piores agentes oxidantes."
É mais um problema, porque um dos motivos que leva pessoas saudáveis a consumir polivitamínicos é o seu efeito antioxidante e a idéia de que isso é uma forma de prolongar a juventude e beneficiar o organismo. A personal trainer Fabiana Regina Cristiane da Silva, 27, conta que toma diariamente um complexo vitamínico. "De A a Z. É um pacote com tudo, já vem pronto e nem precisa de receita para comprar.
Afinal, são vitaminas, não há nada contra-indicado", acredita. Embora esbanje saúde, ela faz a suplementação há três anos, principalmente para prevenção de doenças e envelhecimento precoce, e afirma que isso trouxe melhoras notáveis na aparência da pele e na sua performance física. "Sei que posso encontrar todos esses nutrientes nos alimentos, mas com o suplemento garanto não só a quantidade necessária como também um 'extra' para ter um efeito preventivo."
Infelizmente, para Fabiana, esse uso das vitaminas ainda é polêmico. Outro estudo recente, realizado pela Universidade de Copenhague (Dinamarca), sugere que algumas vitaminas antioxidantes (A, E e betacaroteno) foram responsáveis pela diminuição da expectativa de vida de seus usuários. Os pesquisadores acreditam que o estudo é mais uma comprovação da tese de que uma alimentação saudável e balanceada é melhor do que a suplementação.
Mas as coisas não são tão simples assim. Como explica o nutrólogo Silvio Laganá de Andrade, diretor da Fapes (Fundação de Apoio a Pesquisa e Estudos na Área de Saúde), é possível ter uma dieta correta, para prevenir doenças carenciais, mas uma dieta ótima é mais difícil de se alcançar.
"Há muitos fatores que não podemos controlar. Por exemplo, a qualidade pobre do solo faz com que a presença de alguns minerais seja muito baixa nos alimentos produzidos. O processo de refinação também afeta as propriedades nutricionais da comida. E condições como a poluição atmosférica, que aumentam a oxidação das células, exigem quantidades maiores de fatores antioxidantes", diz Laganá.
Ele acrescenta que histórico familiar, características individuais e hábitos como fumar e consumir freqüentemente álcool também podem criar a necessidade de uma reposição maior de vitaminas do que a possível de se obter apenas por meio de alimentos. Mas também discorda de uma suplementação "às cegas", sem a pessoa saber direito o que e quanto está tomando. E isso não diz respeito apenas aos compostos prontos. "Algumas vitaminas e sais minerais competem entre si ou favorecem a absorção uns dos outros. Por isso é importante definir bem as necessidades individuais e as dosagens."
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade