Análise: Complicações podem estar subestimadas, mostra estudo
Nascido no Vale do Silício, o robô cirúrgico da Vinci foi apresentado nos EUA em 2000 como algo que iria revolucionar a medicina, ao superar muitos dos problemas da operação aberta tradicional, como a perda de sangue e as internações mais longas.
Hoje, são cerca de 2.600 unidades espalhadas pelo mundo, a um custo de US$ 2 milhões cada uma.
Junto com a popularidade do aparelho, têm aumentado as preocupações com segurança, falta de treino dos médicos e agressividade na venda dos robôs (cirurgiões ganhando gordas comissões).
Nos últimos 13 anos, um banco de dados da FDA (vigilância sanitária dos EUA) para notificações voluntárias de problemas causados por dispositivos médicos registrou relatos de 85 mortes, 245 lesões e 4.600 eventos adversos (mau funcionamento da máquina, por exemplo) relacionados ao uso do da Vinci.
No mesmo período, cerca de 1,5 milhão de procedimentos robóticos foram realizados --o que sugere que os problemas relatados sejam estatisticamente insignificantes.
Mas, para críticos como Martin Makary, do Hospital Johns Hopkins, o número de complicações está subnotificado e a indústria e as agências regulatórias estão falhando em monitorar o perfil de segurança das cirurgias.
Makary é coautor de um estudo que cruzou várias fontes de informação e encontrou ao menos oito casos de lesões atribuídas às cirurgias com robô que nunca foram investigados pela FDA.
O desfecho dos procedimentos também merece investigação. Na retirada da próstata, a cirurgia robótica tende a resultar em menor perda de sangue e em recuperação mais rápida do que a operação tradicional.
Mas a taxa dos efeitos colaterais mais temidos (incontinência e impotência) "são altas depois de ambos", diz estudo publicado no "Journal of Clinical Oncology".
No último Congresso Americano de Ginecologistas e Obstetras, a mensagem sobre as cirurgias robóticas de retirada do útero foi clara: "É importante separar o marketing da realidade".
Muitos dos problemas do robô podem estar ligados à curva de aprendizado do cirurgião. Como a técnica é nova, há menos profissionais experientes, o que pode levar a um maior índice de erros.
Mas, com os estudos disponíveis, é difícil avaliar a relação custo-eficácia do da Vinci. Muitos dos trabalhos não incluem um dado fundamental: o grau de satisfação dos pacientes com a cirurgia.
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