Cortar glúten da dieta é controverso para quem não tem intolerância
Se há alguns anos só não comia glúten quem não podia –os celíacos–, agora há quem corte a proteína em busca de uma alimentação mais saudável. Mas estudos e especialistas apontam que deixar de comê-la não tem efeitos sobre a saúde.
As atrizes Bruna Marquezine e Juliana Paes recorrem a uma dieta sem glúten para emagrecer. Até o atual melhor tenista do mundo, o sérvio Novak Djokovic, defende em seu recém-lançado livro "Sirva Para Vencer: A Dieta Sem Glúten Para a Excelência Física e Mental" (editora Évora) uma dieta livre da proteína.
O que ocorre é que o glúten está presente em derivados do trigo, do centeio, da cevada, do malte e da aveia. Ou seja, pão, macarrão, cerveja e vários alimentos industrializados como bolachas e torradas.
Quem deixa de comer esses alimentos, apontam os médicos, muitas vezes acaba perdendo peso –não por causa do glúten em si, mas porque pão, cerveja e bolacha não são exatamente as comidas mais saudáveis.
"Você acaba fazendo uma reeducação alimentar, porque presta mais atenção no que está comendo e corta muitos alimentos industrializados da dieta", diz Jane Oba, médica gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
Fernando Nakamura, 29, com produtos sem glúten |
INTOLERÂNCIA
Os entusiastas antiglúten rebatem, porém, que não se trata apenas de peso.
Muita gente alega sentir algum tipo de desconforto após ingerir algum produto que leva glúten na fabricação: inchaço e desconforto abdominal, gases, estufamento.
O empresário Fernando Nakamura, 29, é uma dessas pessoas. Ele, que não é celíaco, sofreu com cólicas e gases desde criança. Decidiu então tentar uma dieta sem glúten e não tem mais os sintomas.
"O primeiro mês que fiquei sem o glúten já foi uma maravilha. Às vezes uma cervejinha ou outra escapa, mas tento seguir a dieta."
A publicitária Bete Cidreira, 53, também diz que passou a sentir menos inchada e mais disposta quando cortou o glúten da alimentação.
Essas pessoas não são celíacas –uma doença autoimune desencadeada por um dos componentes do glúten que leva a um grave processo inflamatório–, mas podem ter algum tipo de intolerância.
O problema é que não se sabe exatamente como se daria tal intolerância no organismo.
"Não há um consenso sobre o assunto. Mas onde há fumaça há fogo, e alguns pesquisadores estão tentando entender qual é a origem de tantos sintomas", diz Fanny Dantas de Lima, médica alergista e imunologista clínica do Hospital Sírio-Libanês
Pesquisas recentes apontam que talvez os responsáveis pelo desconforto sejam os "Fodmaps" –sigla em inglês para oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e poliois fermentáveis–, carboidratos que podem ser de difícil digestão para algumas pessoas.
"Esses nutrientes não são quebrados como deveriam durante a digestão, então são fermentados pelas bactérias intestinais, o que acaba resultando na sensação de estufamento, inchaço e gases", afirma Jane.
Não há relação entre os "Fodmaps" e o glúten, mas eles estão presentes em alguns alimentos em comum.
Há "Fodmaps" em comidas sem glúten como a maçã e o abacate, mas também em pães, bolos, biscoitos ou cereais contendo trigo. Já banana, uva, tangerina, leite de soja e tapioca são exemplos de alimentos pobres em "Fodmaps" –mas, novamente, não há certeza entre os médicos sobre os impactos das substâncias no organismo.
Para Sophie Deram, nutricionista da USP, a recomendação mais geral que se pode fazer não é cortar produtos da dieta, mas sim apostar em uma alimentação mais variada. "Dietas restritivas demais são insustentáveis a longo prazo e aumentam a ansiedade", afirma.
Até porque uma dieta completamente livre de glúten não é barata: um pacote de 90 gramas de bolachas sem a substância custa cerca de R$ 8, e uma garrafa de 600 ml de cerveja sem glúten custa, em média, R$ 18.
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