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Tenho que ensinar aos jogadores como viver fora de campo, diz Klinsmann

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Jurgen Klinsmann, 49, conseguiu classificar os Estados Unidos para a Copa do Mundo no Brasil. Bom resultado, mas não é a principal missão do ex-atacante da Alemanha em três Copas do Mundo (1990, 1994 e 1998). A missão dele é cultural.

"É um processo educacional, na verdade. Eu tenho de ensinar aos jogadores como viver fora de campo. A enxergar o futebol como um trabalho de 24 horas por dia, sete dias por semana", afirmou, em passagem por São Paulo com 26 convocados da seleção norte-americana para período de treinos.

Nome mais consagrado e com mais história no futebol do que seus antecessores no cargo, Klinsmann não tem medo de fazer reclamações. Fez o mesmo no breve período em que comandou o Bayern de Munique, entre 2008 e 2009. Sua personalidade entrou em conflito com a do dirigente (e também ex-artilheiro da seleção), Karl-Heinz Rummenigge. Acabou demitido.

"Nos Estados Unidos, eles precisam entender que há muito mais envolvido do que simplesmente 90 minutos. Recebemos jogadores fora de condição física para períodos de treinamentos. Eles acharam que entrariam em forma durante os treinos. Isso é inaceitável", completou.

Klinsmann explica em inglês, com pouquíssimo sotaque, os pensamentos. Essa é uma das cinco línguas que fala e um dos motivos que o faz exigir versatilidade cultural. A carreira do artilheiro foi marcada por isso.

Formado aprendiz de padeiro na juventude em Goppinger, na Alemanha, fez a vontade do pai. Ele queria que o filho tivesse uma profissão se o futebol não desse certo. A família Klinsmann ainda é dona de uma padaria na região.

Nelson Almeida/AFP
Klinsmann (de azul) observa treino do time nacional norte-americano
Klinsmann (de azul) observa treino do time nacional norte-americano

Os gols pelo Stuttgart o levaram, em 1989, para a Internazionale de Milão. Era um dos três alemães (ao lado de Brehme e Matthaeus) da equipe, uma resposta à trinca holandesa Guillit-Van Basten-Rijkaard que ganhava tudo pelo arquirrival Milan.

Klinsmann confessa ter percebido a necessidade de se diferenciar dos outros. Ser aceito. Encontrou a solução na língua. Aprendeu rapidamente o italiano. Tornou-se um dos nomes preferidos da torcida.

"Há jogadores nos Estados Unidos que acreditam terem 'chegado lá' porque estrearam na MLS [liga de futebol do país] ou por terem feito testes em clubes médios da Inglaterra, como o West Ham. Não entendo. Você não pode se contentar com isso. Tem de querer mais. Ambicionar jogar na Liga dos Campeões da Europa. Depois disso, vencê-la", disse em entrevista recente para a revista Forbes. Curiosamente, ele cita o único título importante que lhe escapou na carreira.

SIMULAÇÕES E IRONIAS

Klinsmann consegue ser simpático em um momento. No seguinte, é capaz de mostrar ter a língua ferina.

Já como técnico, autorizou a chegada do norte-americano Landon Donovan para o Bayern de Munique. Uma das contratações que desagradaram aos dirigentes do clube. O presidente Uli Hoeness chegou a dizer à imprensa que o jogador não era bom o bastante nem para vestir a camisa do time reserva do Bayern.

Mas a mão que afaga é a mesma que apedreja. Klinsmann já citou o mesmo atacante e outros nomes estabelecidos do futebol dos Estados Unidos. Falou em comodismo. Um dos alvos recentes foi Cilnton Dempsey, atualmente em segunda passagem pelo Fulham, da Inglaterra. "O que ele ganhou lá? Nada!", reclamou, usando um dos astros da seleção que comanda como exemplo de não almejar dar um passo a frente na carreira. Ao mesmo tempo em que o técnico exigia mais dedicação ao futebol, Donovan pedia para não ser convocado porque alegou estar exausto e precisar descansar.

Sinceridade que o coloca em saia justa algumas vezes. Ao mesmo tempo em que fala em ambição para seus jogadores, tenta elogiar a expansão da MLS, que faz investimentos em contratações de atletas norte-americanos que estão na Europa. O último exemplo foi o volante Michael Bradley, apresentado na segunda-feira como jogador do Toronto FC. Ele estava na Roma, da Itália.

"Bradley não tomou uma decisão futebolística. Foi questão financeira. Mas também não deixa de ser um grande sinal para a MLS", reconheceu, tentando ficar com um pé em cada canoa.

O agora treinador considera uma escolha estranha (trocar a Roma pelo Toronto), mas pode se enxergar nela. Porque Jurgen Klinsmann, em 1992, ainda aos 28 anos, saiu da Internazionale e foi para o Monaco, da França. Transferência que lhe deu bagagem cultural e a chance de trombar com a família real de Monte Carlo nos finais de semana. Mas que, futebolísticamente, não foi uma evolução.

Campeão mundial em 1990, europeu em 1996, ele já confessou ter se tornado uma pessoa mais relaxada após ter ido morar na Califórnia, onde se casou com a ex-modelo Debbie Chin e aprendido a pilotar helicópteros.

Apesar de atritos esporádicos com a imprensa, é capaz de surpreender pelo senso de humor. Na época de jogador, estreou pelo Tottenham Hotspur, da Inglaterra, em 1994, e comemorou o primeiro gol mergulhando no gramado, como que para zombar dos jornais que o acusavam de simular faltas e se jogar na área de forma cinematográfica.

Ao cumprimentar Chris Waddle, após a semifinal da Copa de 1990 contra a Alemanha, o técnico Graham Taylor, comentarista da emissora ITV, ironizou: "Acho que a primeira vez que alguém encosta em Klinsmann e ele não cai".

As histórias o divertem na mesma medida em que consegue não compreender uma fixação dos norte-americanos com o esporte: as estatísticas. Não quer irritar seus empregadores, mas deixa subentendido que a insistência no uso de números no futebol o deixa contrariado.

"Os Estados Unidos são fanáticos por estatísticas. É divertido de ver. No basquete, eles se preocupam em quem tem mais rebotes, assistências... Pode ser útil. No futebol, cada técnico é diferente. Há alguns que preferem acreditar nos próprios olhos. Eu decido o que vou usar ou não. Às vezes, apenas dou risada."

Querer que seu país adotivo dê as costas para as estatísticas pode ser uma mudança cultural ambiciosa demais para Klinsmann. Ele nem almeja isso, na verdade. Contenta-se com menos. "Nós nem ambicionamos ganhar a Copa do Mundo. Queremos aproveitar o momento", finalizou.

Rahel Patrasso/Xinhua
Klinsmann sorri durante entrevista no centro de treinamento do São Paulo
Klinsmann sorri durante entrevista no centro de treinamento do São Paulo
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