Em uma série de reportagens clássicas hoje reunidas no livro "Fama & Anonimato", o norte-americano Gay Talese faz a anatomia dos "boomers", legião de operários que trabalharam na construção de pontes nos EUA.

De um lado, não lhes faltava emprego; especialistas destemidos como eles eram "caçados" em todo o país. De outro, a atividade era ingrata –mortes faziam parte da contabilidade humana das pontes.

O documentário "Operários da Bola", que estreia nesta quinta (15) em circuito nacional, lida com um grupo semelhante, guardadas as devidas proporções. Eles também são personagens de um "boom", o da construção de estádios brasileiros para a Copa.

E, como ocorre com os personagens de Talese, há uma certa amargura em torno desses anônimos que erguem obras monumentais, eternizadas em cartão postal, e depois saem de cena.

	Reprodução
	Reprodução do Documentário "Operários da Bola"

Em "Operários da Bola", a diretora Virna Smith explora a situação peculiar dos trabalhadores que alimentam ou alimentaram o desejo de se dedicar profissionalmente ao futebol.

O cenário é o estádio Mané Garrincha, de Brasília. Enquanto subiam as arquibancadas, em 2012, foi realizada a Copa Solidária dos Operários da Bola, em um campo de dimensões reduzidas bem no centro das obras.

Um pouco do lado B do futebol brasileiro se desenha à medida que a competição avança e o filme apresenta alguns de seus protagonistas –um ex-jogador, um juiz, um agente, um goleiro.

O universo desses "boomers" é rico o bastante para se impor aos procedimentos convencionais do documentário, tímido diante da riqueza sociocultural de seu objeto, e para lembrar que os sonhos desfeitos ou arranhados compõem o cotidiano da bola que rola distante do padrão Fifa.

'Operários da Bola'
Direção: Virna Smith
Duração: 74 min
Produção: Brasil, 2014
Onde: Espaço Itaú - Pompéia e Espaço Itaú - Frei Caneca
Estreia: Nesta quinta (15)
Classificação: Regular